Por Murillo Trevisan
O “Projeto Alita” já vem de longa data na cabeça do cineasta James Cameron (“Avatar”). No final da década de 90, o diretor – e seu amigo pessoal – Guillermo del Toro (“A Forma da Água”) o apresentou o Mangá “Battle Angel Alita” de Yukito Kishiro, que logo lhe chamou muita a atenção e o deixou imensamente encantado com o conceito. No ano 2000, os nomes de domínio “battleangelalita.com” e “battleangelmovie.com” foram registrados pela 20th Century Fox para Cameron, que três anos depois anunciaria o desenvolvimento do projeto e conclusão do roteiro.
Depois de muitos anos de adiamento por conta de uma agenda lotada, em especial com seu envolvimento na franquia “Avatar” – que inicialmente seria uma trilogia, sendo confirmados mais quatro filmes posteriormente – a adaptação do mangá homônimo finalmente saiu do papel, com o próprio Cameron assumindo apenas a produção ao lado de Jon Landau (“Titanic”) e jogando a responsabilidade da direção nas mãos de Robert Rodriguez (”Sin City: A Dama Fatal”).
Em “Alita – Anjo de Combate”, o mundo ficou em um estado deplorável no ano de 2563, onde uma guerra dizimou onze das doze cidades originais. O cybermédico Dr. Dyson Ido (Christoph Waltz) vasculha a sucata descartada da cidade flutuante de Zalem em busca de partes cibernéticas para tratar a população da Cidade do Ferro, construída em volta dessa montanha de entulho. Nesse âmbito, é comum que as pessoas tenham partes robóticas implantadas, com alguns humanos sendo quase 100% metálicos. Na sua busca, ele se depara com um busto de uma ciborgue cujo cérebro ainda está funcional. Ele a resgata e dá um corpo à “garota”, que acorda sem nenhuma memória.
Conforme Alita (Rosa Salazar) se adapta à peculiaridade da Cidade do Ferro, o Dr. Ido tenta protegê-la de seu passado e das memórias que aos poucos vão sendo recuperadas. Ao mesmo tempo ela conhece Hugo (Keean Johnson), um amigo humano que a acompanhará em sua jornada. Mas quando a jovem ciborgue precisa lutar para sobreviver, descobre que ela é uma guerreira combatente e seu papel no mundo é muito maior do que poderia imaginar.
Visualmente, o filme é impecável. Com um CGI deslumbrante – típico de James Cameron – tudo se torna muito nítido e crível. As batalhas são divertidas e empolgantes, com uma coreografia bem executada, sem deixar a movimentação confusa. A construção daquele mundo cyberpunk funciona muito bem com o excelente design de produção, espalhando as características nos pequenos detalhes que passam com legitimidade a consciência de uma cidade suja e pobre, refletindo indiretamente em uma questão social e política.
A atriz Rosa Salazar (“Bird Box”), faz um ótimo trabalho ao dar vida à nossa protagonista digital, expressando ingenuidade e curiosidade de um ser que está novamente aprendendo a viver. A captura de movimento e das expressões faciais transmitem a sinceridade daqueles sentimentos, como o asco em sentir o amargor ao morder a casca de uma laranja, ou o prazer na doçura de um pedaço de chocolate.
Infelizmente – e impressionantemente – não há essa mesma entrega por todo o elenco de apoio. Nomes estelares como Christoph Waltz (“Bastardos Inglórios”), Jennifer Connelly (“Réquiem para um Sonho”), Ed Skrein (“Se a Rua Beale Falasse“) e Mahershala Ali (“Green Book: O Guia“) se esqueceram de atuar, apenas emprestando seus corpos como marionetes à personagens extremamente caricatos. Mesmo Robert Rodriguez não sendo um diretor conhecido por extrair o máximo dos atores, seus filmes autorais costumam ser convincentes o suficiente neste quesito, expondo aqui ainda mais a impressão de que este é um longa comandado por um estúdio.
A ambição de tratar esse primeiro filme como o início de uma trilogia, sem executar um fechamento encíclico para um arco de apresentação, deixa o roteiro com cara de inacabado, muito aquém das produções bilionárias e perfeccionistas que James Cameron costuma nos oferecer. Visualmente deslumbrante, “Alita – Anjo de Combate” é um empolgante sci-fi, mas que deixa a sensação de um produto entregue às pressas, mesmo com 20 anos de produção.
Ficha Técnica
Ano: 2019
Duração: 122 min
Gênero: Ação, Romance, Sci-Fi
Diretor: Robert Rodriguez
Elenco: Rosa Salazar, Christoph Waltz, Jennifer Connelly, Mahershala Ali, Ed Skrein, Keean Johnson
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