Por Luciana Ramos
Trabalhando para investigar a verdade soterrada em crimes, a detetive Lauren Hester (Julianne Moore) sentia-se compelida a omitir dos seus colegas de trabalho uma parte importante de si: o fato de ser gay. Durante anos, apresentou Stacie Andree (Ellen Page), com quem tinha um contrato de parceria doméstica – o mais próximo do casamento entre pessoas do mesmo sexo na época – como amiga, familiar ou colega de quarto.
No entanto, ao ser diagnosticada com câncer de pulmão em estágio avançado, decidiu vir a público para requerer que sua pensão fosse destinada à Stacie no caso de sua morte: o pedido foi feito para que esta pudesse ter condições de manter a casa onde viviam.
Com a ação negada diversas vezes e o avanço da doença diminuindo suas chances de recuperação, ela decide aliar-se ao advogado e ativista Steven Goldstein, que usa sua causa como chamariz para a questão do casamento gay e promove um debate na mídia, botando assim os legisladores em posição indesejada.
Talvez o mais espantoso sobre o conflito vivido por Lauren seja o fato dele ter se passado em meados dos anos 2000 nos Estados Unidos, revelando uma teia de preconceito envolto em conservadorismo. O seu pedido, afinal, dizia respeito ao tratamento igualitário a todos os cidadãos, respaldado no senso de justiça plena.
“Amor por Direito” nasce da dramatização desses eventos, já relatados em um documentário ganhador do Oscar. Porém, ao contrário do seu antecessor, não consegue firmar-se dramaticamente, transitando entre o romance, os conflitos provenientes da doença e do tribunal de forma absolutamente superficial.
De fato, chega a ser espantoso como uma historia tão rica possa ser tratada de maneira tão insossa. A falta de esmero do roteiro pode ser notada nas falas vazias e nas reações caricatas de personagens secundários, originando uma sucessão de clichês em uma trama que não precisa deles.
O resultado é um filme sem alma, que não consegue explorar o sofrimento da sua protagonista, apesar das louváveis tentativas de Julianne Moore. Não obstante, sofre com uma edição pobre, relegando-se a tramitações legais em determinado momento, chegando a esquecer do seu proposito humanitário.
Em contraponto à pobreza narrativa, surgem atuações brilhantes de Moore e Ellen Page. Enquanto a primeira exprime o seu usual talento de forma sutil e intimista, a segunda consegue dar um salto qualitativo em seu novo trabalho. Page aparece claramente confortável em sua pele pela primeira vez nas telonas, livrando-se dos maneirismos de filmes anteriores. Em “Amor por Direito”, ela permite mostrar-se absolutamente vulnerável, proporcionando uma atuação honesta e crível.
A batalha travada por Lauren Hester contra os legisladores de Nova Jersey provoca profunda reflexão sobre tolerância, homofobia e, prioritariamente, igualdade perante a lei. Episódio extremamente importante por seu reflexo na luta pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos, sofre pela evidente tentativa de grandeza do diretor Peter Sollet, que dissolve a força inerente ao tema em atalhos narrativos. A previsibilidade que permeia pequenas reviravoltas e inclusão de passagens que visam emocionar o público resultam em um desgaste que pode ser claramente sentido pela superficialidade resultante.
Assim, “Amor por Direito” resulta em um caso peculiar onde, diante dos fatos apresentados, o espectador tem plena consciência do que lhe foi negado: a profundidade narrativa inerente ao tema. Um filme que vale a pena ser visto pela história verídica que o embasa.
Ficha técnica
Ano: 2015
Duração: 103 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: biografia, drama, romance
Elenco: Julianne Moore, Ellen Page, Steve Carell
Diretor: Peter Sollet
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