Por Paulo Lannes
É possível perceber as engrenagens da Netflix funcionando bem em “Aniquilação”. A plataforma de streaming lançou mão à dois fatores de sucesso para realizar seu novo longa de ficção científica. Trouxe, para o papel de protagonista, a atriz oscarizada Natalie Portman (“Cisne Negro”), que se dá bem no papel da bióloga e ex-combatente Lena, enquanto a direção e o roteiro ficou a cargo de Alex Garland, famoso por trabalhar em filmes como “Ex-Machina” (2014) e “Extermínio” (2002).
Porém, não é só na escolha do elenco que o filme acertou. Embora não haja nenhuma inovação no universo cinematográfico da ficção científica, a trama conta com aspectos bastante atuais ao gênero. Há dois a serem destacados: o protagonismo feminino e a crítica ao belicismo do ser humano.
A trama gira em torno da Área X, uma base militar encoberta pelo “brilho”, um elemento orgânico ainda misterioso e altamente mortífero. Vários militares foram enviados ao local, mas nenhum deles retornou – com exceção de Kane (Oscar Isaac), o marido de Lena, que reapareceu gravemente ferido. Diante dos múltiplos fracassos, o Exército decide enviar um grupo de cientistas ao local com o intuito de descobrir do que se trata esse “brilho” e investigar o porquê de ninguém ter voltado de lá.
Daí que encontramos a primeira boa sacada do filme: esse time de cientistas é composto apenas por mulheres, que atuam em diferentes áreas do saber bastante dominado por homens, como a geografia e a física. Vale ressaltar: ainda é raro encontrar mulheres protagonistas na ficção científica. Outro aspecto ainda mais raro é encontrar um filme do gênero que passe por temas comuns ao universo feminino sem cair na retórica machista do “sexo frágil”.
Em “Aniquilação”, essas mulheres se veem diante dos dilemas pessoais que não conseguiram resolver antes de aceitar a missão (que é, até então, considerada suicida). Entre eles estão questões como a culpa de mãe, o suicídio no meio acadêmico, o lesbianismo, a loucura e os famigerados problemas de casamento – tudo sob a ótica delas.
Por ser mortífero, o exército olha com preocupação para o elemento brilho e para os seres que deram as caras na Área X, chegando a afirmar que a humanidade está em risco. Porém, Lena, que conseguiu escapar do local, afirma não estar certa disso e diz que eles estavam apenas realizando uma mudança no contato entre os seres vivos e a natureza, podendo ser benéfica ou não. Isso é exposto por meio de uma rica e colorida natureza selvagem, além do embelezamento de certos animais (como os cervos, que possuem galhadas floridas) e do fortalecimento de outros (como o jacaré e o urso, que se tornam hiper-predadores).
Quem viu o filme “A Chegada” (2016) sabe que o dilema não é novo no gênero. Porém, deve-se reafirmar o bom trabalho feito em “Aniquilação”, visto que mesmo havendo a dúvida, os personagens optam por atuar de modo belicista. Afinal, mesmo diante do exposto, Lena optou por explodir o ponto central da Área X, pondo fim ao elemento “brilho”. Talvez o plot twist do filme fique por conta dos últimos minutos, que deixa toda a trama em aberto – nos lembrando de como Garland age bem no roteiro.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 115 min
Gênero: Ficção Científica
Diretor: Alex Garland
Elenco: Natalie Portman, Oscar Isaac, Jennifer Jason Leigh, Tessa Johnson, Gina Rodriguez
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