Por Luciana Ramos
Concebido inicialmente como uma continuação de “O Homem de Aço”, o novo filme da Warner com a DC Comics adicionou novos contornos aos poucos, derivando em uma trama que evoca o embate dos mais cultuados super-heróis da editora.
A expansão da magnitude do novo filme é parte da nova estratégia da DC, que pretende entrar na briga com a Marvel pela bilheteria dos filmes do gênero. Assim, como o subtítulo implica, “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” serve em última instância como um longa de apresentação de um novo universo expandido, explorado posteriormente em filmes solo e de equipe.
De forma inteligente, os roteiristas Chris Terrio e David S. Goyer optaram por salvar tempo de tela costurando a antipatia entre os protagonistas, bem como o aprofundamento desses e demais personagens já retratados no cinema à quase exaustão. A estratégia adotada foi retomar os acontecimentos finais de “O Homem de Aço” e retratá-lo sob uma nova perspectiva, a de Bruce Wayne (Ben Aflleck). Assim, um dos aspectos mais criticados do filme anterior, a destruição massiva de Metrópoles no confronto final, reverteu-se em justificativa à obsessão de Wayne em deter o Superman (Henry Cavill).
Como outros, ele vê o preço das ações desse super-herói em vidas inocentes e teme a presença de um ser tão superior entre a raça humana. O seu medo é compartilhado pela Senadora Finch (Holly Hunter), que deseja regular às iniciativas do homem de aço como forma de prover garantias à população. Em oposição, está boa parte do povo, que o vê como um Deus salvador e defende a sua liberdade de ação.
A discussão mostra-se não só interessante mas também pertinente à evolução do conflito entre Batman e Superman, além de embasar as atitudes do opositor em comum, Lex Luthor (Jesse Eisenberg). Como resultado está uma trama que se sustenta em justificativas plausíveis, adicionadas gradualmente em meio aos recortes fragmentados da montagem paralela, que explora as motivações de todos os envolvidos. Tal exposição narrativa, embora sofra pela rapidez com que trabalha cada eixo dada a limitação de tempo de tela (visto a quantidade de pessoas e conteúdo), consegue contornar suas barreiras através do desenvolvimento dos personagens a partir de suas reações aos eventos principais.
Assim, a teia de causa e consequência não só beneficia o entendimento da visão de mundo do Batman como também de Lois Lane (Amy Adams) e Lex Luthor, por exemplo. Cabe ressaltar que a namorada de Clark Kent segue o movimento começado em “O Homem de Aço”, despindo-se cada vez mais do papel de mocinha indefesa para atuar com maior protagonismo.
É ainda interessante notar que Wayne, Kent e Luthor basicamente agem em resposta a traumas passados, que o moldaram. Dessa forma, a exposição de uma sequência já tão trabalhada no cinema como a da morte dos pais de Bruce logo ao início torna-se justificada, pois acaba impulsionando a trama em determinado momento.
Essa cena reafirma a predileção do seu diretor Zack Snyder em abrir seus filmes com contextualizações rápidas e fragmentadas, como feito em “Watchmen”, por exemplo. Além dessa, outra escolha estética comumente associada às suas obras permeia todo o longa: a adesão de slow-motion como maneira de enfatizar a ação dramática. São também presentes o uso de uma paleta de cores escura e o emprego de efeitos visuais que, embora megalomaníacos, são muito bem inseridos.
Porém, a estética competente de nada seria sem a boa performance dos atores. A maior incógnita da produção, suscetível a diversos questionamentos por parte dos fãs, era Ben Affleck, que conseguiu distanciar-se da persona trabalhada por Christian Bale nos filmes anteriores da DC e concedeu densidade à Bruce Wayne. Mais velho, o seu Batman é assombrado pelo passado e carrega em si o peso da culpa, sentimento transmitido com eficiência pelo ator.
Já Cavill dá seguimento ao construído no seu filme anterior na pele de Clark Kent, conseguindo convencer com sua pose e cara de bom moço, sem nunca oferecer algo além. No entanto, é nítida a melhora da interação entre ele e Amy Adams. Esta mostra-se bastante competente ao fornecer contornos elaborados à sua personagem, movimento seguido com eficiência por todo o apoio de elenco.
Todavia, o destaque maior fica por conta de Gal Gadot na pele da Mulher-Maravilha. Tendo uma mulher forte e extremamente interessante nas mãos, Gadot usa o pouco espaço concedido para literalmente roubar a cena, combinando um ar misterioso ao dilema vindo de um alto senso de dever, além de provar estar fisicamente à altura dos outros dois super-heróis.
Baseada no confronto clássico explorado na graphic novel de Frank Miller, “O Cavaleiro das Trevas”, “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” é um prato cheio para os fãs, oferecendo diversos easter eggs ao longo da trama, como o cavalo que cruza o caminho de Wayne em meio à fumaça logo ao início. Do ponto de vista narrativo, ainda que abuse um pouco da extensão em número de personagens e conteúdo abordado, consegue equilibrar bem a densidade inerente aos seus questionamentos à cenas de ação muito bem coreografadas.
Assim, o filme representa um avanço importante em relação ao fraco predecessor, “O Homem de Aço”, mas revela-se aquém da trilogia do Batman concebida por Christopher Nolan. Neste patamar, atua mais como uma promessa de excelência dos filmes posteriores do universo da DC Comics, nos quais esperam-se o mesmo expertise visual com tramas mais enxutas.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 153 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Jesse Eisenberg, Laurence Fishburne, Gal Gadot
Diretor: Zack Snyder
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