Por Marina Lordelo
Dave Wilson resolve partir do videogame (Mass Effect 2, Star Wars, Bioshock Infinite) e dos efeitos visuais sofisticados em obras como Vingadores: A Era de Ultron (2015) para dirigir seu primeiro longa-metragem em adaptação homônima à HQ Bloodshot criada por Kevin VanHook e Yvel Guichet em 1992.
Bloodshot é estrelado por Vin Diesel no papel de Ray Garrison, um soldado morto em combate que é trazido de volta a vida por uma corporação especializada em nanotecnologia e inteligência artificial. Em uma jornada de vingança o então supersoldado Ray precisa lidar com suas memórias afetadas e seu desejo de libertação.
A estética de Bloodshot flerta com a dinâmica dos games mas também se apropria de recursos das HQs. O espectador assume um ponto de vista semelhante a um jogo em terceira pessoa, compartilhando das ações e até mesmo da movimentação do protagonista Ray. A escolha dos intertítulos como recurso narrativo está sempre associada a uma sonoridade característica dos videogames mais sofisticados. Alguns filmes e séries também são referência para Bloodshot, mais diretamente há associações a Corpo Fechado (M. Night Shyamalan, 2001), O Exterminador do Futuro (James Cameron, 1984), e também a série Westworld ( 2016-atual).
Esse amálgama que une a fama de Vin Diesel a um sci-fi dos quadrinhos recheado de efeitos visuais de games, torna Bloodshot uma experiência cinematográfica com ritmo e cheia de adrenalina. Wilson não abre mão de alguns recursos narrativos recorrentes, como o slow motion (câmera lenta) em tomadas de luta física ou para acentuar a potência de alguns efeitos visuais, nem de uma paisagem sonora que conduza as emoções do espectador de forma mais didática. Por vezes a colorização pinta completamente a imagem de vermelho, para reforçar seu pertencimento à Ray (e ao sentimento de vingança, além de se referir ao sangue – que está no título) e também para contrapor ao azul frio e controlador da corporação de Dr. Emil Harting (Guy Pearce)
Wilson acerta em sua zona de conforto dos efeitos bem aplicados, mas fica limitado na direção de atores. Vin Diesel não é capaz de adicionar a humanidade necessária à Ray, tornando seu personagem robótico e inexpressivo. O que sobra de bons golpes e movimentação em cena, falta em sentimento e dramaturgia. E assim segue a mesma lógica para as duas únicas personagens femininas KT (Eiza González) e Gina Garrison (Talulah Riley), que além de meras redentoras do protagonista não tem atuações significativas. São então os (inúmeros) vilões que criam o contraponto necessário, já que o lado antagônico é dramaturgicamente pouco expressivo.
Bloodshot é mais um filme que dispensa a útil presença feminina e de reafirmação da masculinidade a partir da vingança e destruição, com excelentes efeitos visuais, plot twists (reviravoltas) amarrados e desenho de som impecável. E se Ray aprende a pilotar um avião lendo apenas o seu manual, o que mais ele não seria capaz de fazer?
Ficha Técnica
Ano: 2020
Duração: 102 min
Gênero: Ficção Científica, Ação
Diretor: Dave Wilson
Elenco: Vin Diesel, Eiza González, Talulah Riley, Guy Pearce