Por Luciana Ramos
No imediato do pós-Guerra, milhares de judeus sobreviventes tornaram-se refugiados, vivendo em alojamentos gerenciados pelos países que haviam ocupado o território. Em comum, havia ao sonho de sair da Alemanha, local que agora representava o horror. David Berman (Moritz Bleibtreu) era um deles. Sua sagacidade o leva a reunir um grupo de seis homens para explorar o sentimento de culpa dos alemães em prol do dinheiro, que servirá como passaporte para um futuro próspero.
Valendo-se de situações cômicas vindas da flexibilidade moral daqueles indivíduos, o filme de Sam Garbaski propõe-se a relatar um período sombrio com um tom mais leve. Para isso, mescla a empreitada desses senhores ao interrogatório que o protagonista é submetido por uma oficial americana (Antje Traue). A suspeita é que ele, que foi prisioneiro em um campo de concentração, tenha se aliado aos inimigos.
Os relatos que se desenrolam contêm pequenas fagulhas fantasiosas, que levantam suspeitas da sua veracidade. De início, a montagem paralela deixa o espectador confuso: qual é a relevância das experiências passadas de Berman, se o propósito inicialmente mostrado era a confecção de uma comédia de um período posterior?
Com sagacidade, à medida em que contrasta as duas linhas narrativas, o diretor compõe a complexidade do seu personagem principal e, assim, traça um relato de sobrevivência. A mentira, cerne das ações dramáticas, é mostrada como parte fundamental do sucesso não só dele, mas como de seus amigos: é a mesma habilidade de anuviar, esquivar-se por desculpas e construir histórias mirabolantes que os permite continuar vivendo e sonhar com a possibilidade de um futuro.
Com isso, a comédia vai muito além das simples situações casuais, como a que uma pobre senhora com dores nos pés é levada a comprar vários pacotes de lençóis: ele provém do tipo cômico que usa do único artifício ao seu dispor, a inteligência, para driblar as dificuldades; o cínico sagaz que busca meios para a sua sobrevivência.
Tal construção, além de estimulante, revela-se também muito agradável, arrancando risadas pela forma com que os personagens moldam suas morais à conveniência. Ainda assim, é incapaz de se esquivar dos horrores provocados pela Guerra, da humilhação sofrida pelos judeus e do clima de perseguição que se instala no seu período posterior, algo enfatizado pelos movimentos de câmera.
Um grande destaque é a atuação de Moritz Bleibtreu, charmosa quando cômica e complexa quando revela no seu rosto o trauma do passado. Seu talento fica evidente em como consegue transitar entre emoções tão distintas de forma gradual e contínua.
“Bye, Bye Alemanha” oferece um novo olhar sobre um evento cruel muito retratado nos cinemas. Abraçando a comédia, descarta convenções morais comuns às diferentes sociedades, como a retidão de caráter, e adota a capacidade de adequação de seus personagens como instrumento de sobrevivência. No caminho, oferece boas doses de divertimento aos espectadores.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2017
Duração: 102 min
Gênero: comédia
Diretor: Sam Garbaski
Elenco: Moritz Bleibtreu, Antje Traue, Tim Seyfi
Trailer:
Imagens: