Por Murillo Trevisan

Stephen King é um dos autores mais consagrados de todos os tempos. Suas obras, principalmente no gênero de suspense e terror, são de extrema importância para a literatura e consequentemente para a indústria cinematográfica. Por conta da facilidade de acesso – da qual sempre fez questão, vendendo os direitos a baixíssimo – existe um arsenal imenso de seus trabalhos adaptados para as telonas. Só nos últimos anos, foram aproximadamente dez contos adaptados, tendo entre eles o estrondoso sucesso de crítica e bilheteria “IT: A Coisa – Parte 1”.

Trinta anos após o lançamento do primeiro filme em 1989 pelas criativas mãos de Mary Lambert (“O Despertar “), “Cemitério Maldito” também foi fisgado nesse processo de rejuvenescimento dos projetos de King, visando angariar um novo público. Porém, contrariamente ao que nos apresentou o novo filme do palhaço Pennywise em 2017, aqui pouca inovação é revelada para que se possa justificar a necessidade de um remake.

A história principal gira novamente em torno da família Creed, que se muda para o interior dos Estados Unidos com o objetivo de desacelerar o ritmo frenético da cidade grande. Louis (Jason Clarke) também quer se reconectar com sua mulher e filhos, mas se afasta ao descobrir a existência de um Pet Sematary (cemitério de animais) – propositalmente escrito de forma errada – em sua propriedade, que antigamente era usado por tribos indígenas para imortalizar os falecidos através de forças místicas e inexplicavelmente perigosas, como o poder de trazê-los de volta à vida.

Primariamente como função de “olhos do espectador”, o patriarca – interpretado pelo questionável Jason Clarke (“Calmaria”) – aprende através de seu novo vizinho Jud (John Lithgow) tudo a respeito dos mistérios daquelas terras enigmáticas e seus poderes sombrios. É ele também que induz Louis a enterrar Church, o gato de sua filha que morreu atropelado na movimentada estrada que beira sua casa, voltando à vida em uma forma maligna.

O personagem vivido por John Lithgow (“Interestelar”) é uma das poucas coisas que, ainda de forma sutil, demonstra uma evolução em relação ao primeiro longa. Aqui ele é introduzido através da garotinha Ellie Creed (Jeté Laurence), que após se machucar na floresta e é amparada pelo velho senhor. A demonstração estética do personagem gera uma dúvida quanto suas intenções, podendo ser boas ou simplesmente predatórias, enriquecendo assim – ao menos de início – o ambiente de suspense. Diferentemente da produção de 1989, onde na ocasião Fred Gwynne (“Meu Primo Vinny”) o interpretava, passando a sensação de segurança desde o início.

Mesmo não tendo dado muito certo com Church, Louis não exita em repetir o ritual quando similar destino fatal ocorre com sua filha Ellie. A garota então também retorna e começa assombrar a vida de todos na casa, ressaltando todo o talento da jovem atriz Jeté Laurence (“Boneco de Neve”), que sozinha consegue gerar a percepção de horror que a construção do filme como um todo falhou em transmitir.

O problema não chega a ser da trama ou do roteiro em si, que se esforça em expandir aquele universo dando todo um viés à abordagem sobrenatural, mas sim na forma como foi conduzido. A dupla no comando Kevin Kölsch (“Starry Eyes”) e Dennis Widmyer (“Absence“) parece querer se livrar de toda atmosfera construída por Stephen King – e até por Mary Lambert – da qual o terror era parte de um todo, em troca de jump scares forçados, ao exemplo dos caminhões na estrada, que são silenciosos mesmo à curta distância, mas que fazem barulhos estrondosos ao aparecerem entre a copa das árvores.

Em uma excelente época para o terror, sendo chamado carinhosamente de “pós-terror”, Cemitério Maldito desperdiça a oportunidade de se atualizar e deixar pela segunda vez sua marca na história desse gênero tão admirável e rentável.

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 101 min

Gênero: Horror, Mistério, Suspense

Diretor: Kevin Kölsch, Dennis Widmyer

Elenco: Jason Clarke, Amy Seimetz, John Lithgow, Jeté Laurence

Avaliação do Filme

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