Por Luciana Ramos

 

Um dos marcos das produções da Biônica Filmes, que se propõe a adaptar e, assim, expandir o universo da Turma da Mônica para o audiovisual, é o respeito aos personagens criados por Maurício de Sousa. Nota-se um carinho comum aos filmes e séries, seja no primor da transposição visual de cenários tão característicos ou pelo cuidado em não ultrapassar limites delimitados ao longo das décadas.

“Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa” é fiel ao modelo, levando para o cinema o ambiente da roça em todo o seu encanto – a simplicidade, a dilatação do tempo e as relações entre vizinhos. Ao centro está Chico Bento (Isaac Amendoim), personagem icônico transposto com fidelidade assombrosa. A fala introdutória do carismático Isaac Amendoim (um achado) remete o espectador automaticamente ao mundo da Vila Abobrinha, em especial a goiabeira de Nhô Lau (Luis Lobianco) onde o protagonista ama colher os frutos e passar o tempo – para infelicidade do fazendeiro.

Seu mundo descomplicado e idílico é posto à prova quando Dotô Agripino (Augusto Madeira) e seu filho Genesinho (Enzo Henrique) anunciam uma nova empreitada que supostamente trará desenvolvimento à região: a construção de uma estrada de cimento que inevitavelmente derrubará a goiabeira tão estimada por Chico.

Completamente revoltado, ele decide reunir os amigos Zé Lelé (Pedro Dantas), Rosinha (Ana Julia Dias), Hiro (Davi Okabe), Tábata (Lorena de Oliveira) e Zé da Roça (Guilherme Tavares) para criação de um plano capaz de impedir o feito. Além do rico fazendeiro, eles devem enfrentar seus próprios pais, inebriados com o dito progresso tão citado por Agripino. Focando na simplicidade, o roteiro desenvolve a questão central sem perder o ritmo, costurando pequenas reflexões no caminho que podem ser fisgadas entre uma aventura e outra da turma. Nesse sentido, é maravilhosa a participação de Taís Araújo na trama, pontual, mas poética.

Embora muito bem construída, a atmosfera de “Chico Bento” conta com uma desvantagem em relação aos outros filmes da Turma da Mônica. Trata-se de um ambiente mais bucólico, menos teatral e, portanto, sem tanta aparente riqueza visual. Porém, esses contrapontos são facilmente driblados pela adição de inúmeras passagens lúdicas, que exploram a imaginação dos personagens e convidam o público a brincar junto – de binóculos feitos com as mãos a uma interpretação bastante curiosa do Chico Bento sobre o que significaria a expressão “abrir os ouvidos”.

A direção explora a vastidão dos ambientes e os contrapõem a closes enfáticos e planos com câmeras na mão que valorizam o elenco infantil. Esse é um filme que busca retratar as crianças como elas são, incluindo as suas limitações no cálculo de uma aventura que os exigirá muito.

Além de acertar totalmente no tom da adaptação – sendo um deleite para os adultos que também cresceram lendo esses quadrinhos – o mais novo longa-metragem da Biônica Filmes segue um trabalho importante de criação de público infantil, com histórias diversas e de qualidade que enaltecem a criação de um artista brasileiro que marcou profundamente gerações de leitores. Imperdível.

Ficha Técnica

Ano: 2024

Duração: 1h 30min

Gênero: infantil, aventura, comédia

Direção: Fernando Fraiha

Elenco: Isaac Amendoim, Taís Araújo, Guga Coelho, Débora Falabella, Luis Lobianco, Augusto Madeira

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