Por Luciana Ramos

 

Amador (Nelson Xavier) conta com orgulho a quem quiser ouvir que um dia fora o homem mais temido da região. Em um álbum amarelado, coleciona recortes de jornais que narram as chacinas das quais fora responsável. No entanto, agora aposentado e mais velho, relega-se a negociar máquinas velhas de caça-níqueis em botecos a mando de Tio (Gê Martú).

Este, outro bandido dos velhos tempos, prosperou bastante com os anos, tornando-se uma espécie de chefão do bairro, algo que incomoda profundamente Amador, que se acha bem mais corajoso. Procurado por dois cineastas para entrevistas, o ex-pistoleiro é alvo de dúvidas, devido a serenidade e lentidão características da idade. Por outro lado, passa a ser uma espécie de mentor para o neto (Marcos de Andrade) do seu amigo, que o olha com admiração e ambiciona um caminho semelhante para si.

 

 

comeback 1

 

Todos estes elementos juntos – fagulha de admiração em meio à duvida e descrédito constantes – contribuem para ativar em Amador uma necessidade de ser temido mais uma vez. A violência é, para ele, um instrumento de valoração e, assim, uma forma de por fim a inferioridade com que é julgado na sua velhice.

A narrativa avança nessa direção a passos lentos, uma forma de enaltecer a falta de perspectivas do personagem. Apesar de ter conflitos e motivações bem delineados, o filme mostra-se muito mais preocupado em realizar um estudo do seu personagem, desvendando aos poucos sua psique por meio de suas ações.

Para isso, constrói uma atmosfera que usa elementos do western, desde a escolha de um lugar árido e afastado onde a lei não é seguida até ao uso de planos abertos que exploram o personagem no ambiente. O mesmo cuidado é tido com a caracterização de Amador, sempre de chapéu e portanto uma arma velha que, como ele, é desacreditada, mas capaz de provocar grandes estragos.

 

Tais simbologias contribuem para a qualidade narrativa do longa como um todo e demonstram o talento de Érico Rassi, que assume tanto o roteiro como a direção da obra. Em seu primeiro longa, demonstra capacidade de transformar uma trama aparentemente simples em um filme rico e bem construído. No entanto, nota-se o mal aproveitamento da subtrama envolvendo os dois cineastas, ainda que tenha sua presença justificada por contribuir para o excelente final.

No entanto, é claro que o grande trunfo da produção está na figura de Nelson Xavier: sem sua atuação, claramente o filme não teria o mesmo impacto. Com esmero, o ator oferece uma construção de personagem detalhista que contrapõe pequenos traços de fragilidade senil – como passos lentos e divagações – com altivez nas ações.

De fato, Xavier carrega todo o sentido de “Comeback: Um Matador Nunca se Aposenta” em seu olhar cabisbaixo, uma mescla de solidão e perversidade. Simples ao mesmo tempo que é respeitoso com seu personagem, o filme representa uma ótima forma do brilhante Nelson Xavier se despedir do público por enaltecer todo o seu talento como ator.

 

 

Pôster:

 

comeback  poster

 

 

Ficha técnica


Ano:
 2017

Duração: 89 min

Nacionalidade: Brasil

Gênero: drama

Elenco: Nelson Xavier, Gê Martú, Marcos de Andrade, Wellington Abreu

Diretor: Érico Rassi

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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