Por Luciana Ramos
Em 2012, a indústria da moda recebeu com ceticismo a notícia de que o minimalista Raf Simons assumiria o comando criativo da grandiosa marca Dior. O jovem, ex-Jill Sander, tinha um grande desafio pela frente: firmar o seu talento através da criação de um desfile de alta-costura em apenas dois meses, metade do tempo necessário.
Todo o processo criativo e confecção de cada uma das pecas foi filmado e transformado por Frédéric Tcheng em um documentário sobre a tensão que cerca os bastidores da moda.
O longa constrói uma longa teia de conflitos interpessoais a começar pelo estilista que, além do fator tempo, contava com outros empecilhos substanciais. Primeiramente, havia a barreira linguística, já que ele falava pouquíssimo de francês, idioma predominante dos funcionários. Porém, ainda mais relevantes eram os embates criativos.
Era esperado de Raf a modernização dos vestidos e alfaiataria da marca, ao mesmo tempo em que devia seguir diversas regras imutáveis criadas por Christian Dior. O peso dessa figura histórica é tamanho que repetidas vezes os funcionários da empresa brincavam sobre o seu fantasma estar rondando o escritório.
O nome do documentário, por sinal, remete ao livro escrito pelo fundador da marca, onde expunha a pressão de ser considerado um visionário da moda. Passagens de tal obra são inseridas à narrativa. Tal recurso mostra-se extremamente interessante pela proximidade de conteúdo dos questionamentos existenciais de Raf, o que auxiliam no aumento da tensão.
Com a liberdade criativa cerceada, o estilista ainda tinha que lidar com o descontentamento dos funcionários sobre os novos métodos de confecção e prazos, o que gerava intrigas e atrasos.
Ademais, o longa também mostra-se relevante por mostrar o caráter artesanal da criação e expor detalhadamente o trabalho necessário para criação das pecas.
Assim, os dois meses compilados ao longo de uma hora e meia pintam um retrato extremamente realista e profundo da pressão de trabalhar em um universo que exige muito da capacidade criativa dos seus atores. Por esta razão, Dior e eu é um filme imperdível não só para os amantes da moda, mas para todos aqueles que se interessam em boas estórias.
Ano: 2014
Duração: 90 min
Nacionalidade: França
Gênero: documentário
Diretor: Frédéric Tcheng
Trailer:
Imagens: