Por Luciana Ramos

 

O fenômeno literário criado por E.L. James com a trilogia “Cinquenta Tons” certamente seria explorado comercialmente à exaustão pela indústria cinematográfica. Excluindo o valor qualitativo da equação, deu vazão a três filmes que retrataram o universo de Christian Grey e Anastasia Steele em detalhes e agora rende frutos derivados.É o caso de “Do Jeito que Elas Querem”, que aposta no talento e carisma de um grupo de atrizes talentosas e queridas para atrair o público. Com uma trama simples, moldada no gênero da comédia romântica, também advoga pelo direito das mulheres de escolherem como devem conduzir as suas vidas – em qualquer idade.

Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen e Mary Steenburgen interpretam quatro amigas que, há mais de quarenta anos, fundaram um clube do livro com o intuito de estimularem as mentes. As reuniões servem também para discutirem as experiências de cada uma, trocarem conselhos e mensagens de apoio – sempre regados por um bom vinho. Eis que, em um determinado mês, a independente Vivian (Jane Fonda) decide apimentar a discussão introduzindo “Cinquenta Tons de Cinza” na pauta. Com relutância, consegue o aval de todas, que se desafiam a ler o material, mesmo sem crer muito no seu potencial.

A jornada literária, por sua vez, as faz reavaliar suas vidas e, consequentemente, buscar mudanças. Carol (Mary Steenburgen), casada há 35 anos com Bruce (Craig T. Nelson), é feliz na sua rotina, mas percebeu uma brusca queda na vida sexual dos dois depois que seu marido se aposentou. As aventuras sadomasoquistas fazem ela desejar a experimentação de coisas novas, mas ela primeiro deve criar coragem para apresentar as ideias ao marido. Sharon (Candice Bergen), por sua vez, é uma juíza federal extremamente bem-sucedida, mas que se fechou para o amor depois que seu marido há deixou (há dezoito anos). O livro a estimula a procurar novos candidatos românticos, o que desencadeia uma série de situações risíveis.

Diane (Diane Keatonn), por ser viúva, é alvo da constante preocupação de suas duas filhas, que querem que ela se mude de estado para estar mais perto. Seu clamor pela independência entra em conflito com a necessidade de agradá-las, e o conflito só aumenta quando ela conhece o piloto Mitchell (Andy Garcia), que oferece uma nova perspectiva sobre o romance. Por fim, a própria Vivian se vê reavaliando suas escolhas quando reencontra em seu hotel Arthur (Don Johnson), seu antigo namorado. O envolvimento dos dois a faz relembrar dos sentimentos experimentados no passado, algo contestado por seu perfil workaholic, que clama a falta de vínculos amorosos como elemento essencial.

 

 

Ao longo de três meses, essas mulheres devem escolher os próximos passos das suas jornadas, encorajadas tanto pelas suas amigas-irmãs quanto pelo tom provocador da trilogia. Cada uma à sua maneira abandona o conforto para arriscar-se em terreno desconhecido, que dão vazão a passagens permeadas por tiradas irônicas e situações embaraçosas, que nem sempre elas tiram de letra.

“Do Jeito que Elas Querem” parte de uma boa premissa, que causa expectativas pelas infinitas possibilidades de exploração da temática, especialmente pelo fato de o corpo de mulheres em cena já serem mais maduras. Isso reflete em uma segurança natural em avaliar o que é melhor para elas e, em um contexto mais amplo, na válida argumentação de que sexo e amor são questões que não devem sofrer jamais limitações de gênero e idade, como elas mesmo pontuam mais de uma vez ao longo da obra.

Porém, o roteiro nunca consegue aprofundar-se o suficiente para tornar-se relevante, tocante ou hilário. Ao passo que advoga pela coragem das suas personagens em entregar-se ao novo, prefere permanecer no conforto dos clichês. Sem passagens inspiradas e buscando sempre as soluções mais rápidas, termina por negligenciar suas protagonistas, seja pelo delineamento raso no caso de Vivian, que a torna pouco identificável, seja pela forma branda (e frustrante) como explora as subtramas de Carol e Diane.

 

 

De fato, Sharon, personagem de Candice Bergen, é a única que dispõe de um material narrativo melhor, essencialmente pautado na comedia física, algo que a atriz tira de letra. Ela traz o seu timing e carisma à cena, algo comum às outras três atrizes. Todas competentes, passam credibilidade nos seus papeis, concedendo humanidade e, sempre que possível, um toque de humor ácido.

Infelizmente, a narrativa pouco atraente soma-se a uma das composições estéticas mais decepcionantes dos últimos tempos no cinema. Um péssimo trabalho de pós-produção torna claramente perceptível que grande parte das sequências foram filmadas em fundo verde, o que concede uma plasticidade indesejada ao longa. Os fundos absolutamente “fakes”, mais gritantes nas cenas de encontro amorosos, somam-se a uma iluminação que deixa os rostos dos atores “estourados” e, por isso, esbranquiçados.

Sob a direção de Bill Hoderman, também responsável pelo roteiro, o filme revela um caráter amador indesejado e incompatível ao calibre das suas atrizes. Ao final da projeção, experimenta-se um misto de satisfação pela oportunidade de vê-las em cena fazendo o que sabem de melhor e decepção pela certeza de que a união de Diane Keaton, Candice Bergen, Jane Fonda e Mary Steenburgen merecia um material cinematográfico muito melhor.

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 104 min

Gênero: comédia, romance

Direção: Bill Hoderman

Elenco: Diane Keaton, Mary Steenburgen, Candice Bergen, Jane Fonda, Don Johnson, Andy Garcia, Craig T. Nelson

 

Trailer:

 

 

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