Por Luciana Ramos
Garoto conhece garota. A atração mútua cresce e transforma-se em um relacionamento. Os dois tem diferentes ideias do rumo do namoro. Uma grande briga…. Então, a garota entra em coma e a trama de “Doentes de Amor” deslancha para a jornada emocional de um comediante a partir da sua relação com os pais da namorada.
Com uma premissa que desafia o tom cômico do gênero romântico (comumente associados) pela delicadeza do tema, o longa de Michael Showalter mostra-se extremamente relacionável, dada a complexidade com que os personagens são pintados. Isso se deve diretamente ao trabalho de Kumail Nanjiani e Emily V. Gordon em distanciarem-se um pouco da louca experiência que tiveram para escrever um roteiro cativante e bem dosado, que contrabalança o teor pesado da iminência da morte com uma aura romântica que imediatamente faz o espectador torcer pelo casal.
A concepção desse filme começou quando o comediante Judd Apattow (que o produz) perguntou à Nanjiani se este tinha alguma ideia cômica que pudesse compartilhar. Ele, então, resolveu contar sobre a vez em que namorou uma garota que ficou muito doente, o que o levou a conviver com seus pais por semanas, criando uma intimidade desconfortável, rápida e forçada que o fez repensar seus laços com Emily (Zoe Kazan).
Adicionalmente, havia o seu conflito interno: a paixão que nutria pela americana branca em contraponto à obrigação cultural de, enquanto paquistanês, casar com uma boa moça do seu país – devidamente escolhida por sua mãe. Caso descumprisse a regra, seria banido da família. Kumail (Kumail Nanjiani), ao mesmo tempo em que respeitava seus pais, não se sentia compelido a seguir as tradições pois, tendo vivido nos Estados Unidos pela maior parte da vida, não se identificava mais com elas.
O filme segue essencialmente seu ponto de vista em um roteiro que privilegia as relações humanas. Ele é recheado de conversas e situações casuais que gradualmente dimensionam a personalidade daquelas pessoas. Sem correr com os acontecimentos, pavimenta o arco dos envolvidos de forma inteligente, pincelando passagens sérias com um humor sutil – que poderia, inclusive, ser um pouco mais escancarado.
A sagacidade estende-se à escolha de estender a trama um pouco além do necessário, incluindo cenas que redefinem o material visto até então por apresentarem um outro ponto de vista sobre os eventos. Assim, pode-se dizer que o longa não é exatamente o que se espera do gênero, mas revela-se uma experiência tão boa que, ao final, há o desejo genuíno de revisitá-la.
O texto pode ser o destaque mais evidente do filme de Showalter, mas certamente a atuação do elenco merece considerações. Sendo este um filme de relacionamentos, a química mostra-se essencial e todos, sem exceção, parecem entrosados. Destacam-se as atuações das mães, Beth (Holly Hunter) e Sharmeen (Zenobia Shroff), mulheres totalmente diferentes, mas fortes e amáveis, que dão tudo de si para verem seus filhos bem.
Distanciando-se do convencionalismo, “Doentes de Amor” aposta na simplicidade de uma boa premissa, trabalhada de forma plural, realista e, portanto, facilmente identificável. Aliando boas piadas à sensibilidade proposta do tema, revela-se uma ótima surpresa.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2017
Duração: 120 min
Gênero: comédia, romance
Diretor: Michael Showalter
Elenco: Kumail Nanjiani, Zoe Kazan, Holly Hunter, Ray Romano, Anupam Kher, Zenobia Shroff
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