Por Luciana Ramos

 

Ao longo de sua prolífica carreira, Christopher Nolan tem se mostrado um entusiasta do cinema na sua mais pura forma. Defende com unhas e dentes as potencialidades que somente a sétima arte é capaz. Por isso, rejeita novas tecnologias ou formatos: renega o 3D, a distribuição em streaming e renova, sempre que possível, o discurso pela preservação do negativo.

O seu novo longa, ambientado na Segunda Guerra Mundial, traduz perfeitamente o seu entendimento ao sobrepujar as camadas de composição (som, visual, atuações) na criação de um espetáculo: mais que um mero filme, “Dunkirk” é uma experiência. Sua apreciação vem do grande panorama mostrado, de imagens amplas, mas minimalistas, que apresentam e exploram a praia onde 400.000 soldados estão sitiados, esperando resgate enquanto são bombardeados pelos inimigos.

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Nolan não narra os eventos do ponto de vista político, estratégico, mas sim do humano. Ao escolher esse lado, porém, recusa-se a diminuir a narrativa na jornada de um personagem. No longa, são apresentadas várias pessoas – cujas vidas vão se entrelaçando pelos acontecimentos – que buscam nada mais que a sobrevivência. São homens comuns, simples, que apelam por vezes inconscientemente aos seus instintos mais básicos para agarrar qualquer chance de sair dali. Ao mostrar a pequenez humana diante do horror da guerra, o roteirista e diretor enaltece o seu tom caótico e perturbador.

 

Sua narrativa descarta a cronologia, adotando tempos diferentes para cada esfera. Os eventos que ocorrem na praia (no porto) são retratados no período de uma semana; os do mar, em um dia e os do ar, na duração de uma hora. Contrapostos, oferecem a dimensão do processo de evacuação da praia, dos esforços dos britânicos, da luta dos soldados, em especial dos pilotos que sobrevoam a região em busca de caças inimigos para derrubá-los antes que estes atinjam alguma embarcação.

 

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Para compor o seu filme, recorre aos instrumentos técnicos que compõem uma obra cinematográfica: intercala enquadramentos panorâmicos a closes dos soldados, que emanam desespero e medo diante da iminência da morte. Esse trabalho de atuação, de caráter bem físico, é reforçado pela falta de diálogos, que aparecem apenas ocasionalmente. Por fim, complementa as imagens com um minucioso trabalho de composição de som – desde sua concepção, a mixagem, efeitos e trilha sonora.

O som potente, aliado à ambientação profundamente perturbadora, proporciona ao espectador uma sensação de angústia que continua por toda a projeção. Trata-se de um filme sensorial, que deve ser degustado na maior tela possível, com o melhor som, pois ele foi projetado para tal. Ao preocupar-se em compor uma experiência a ser apreciada em uma sala escura de cinema, Nolan reforçou sua defesa à existência dessa arte, sua importância, seu impacto. Não obstante, ao fazê-lo, acabou tecendo um dos melhores filmes de guerra já feitos, por explorar seu primitivismo e, assim, transpor as emoções vividas pelos personagens daquele evento histórico.

 

Pôster:

 

dunkirk poster

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2017

Duração: 106 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: história, drama, ação

Elenco: Mark Rylance, Kenneth Branagh, Tom Hardy, Fionn Whitehead, Damien Bonnard, Cillian Murphy

Diretor: Christopher Nolan

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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