Por Luciana Ramos
Ao observar uma menina na rua apavorar-se ao ver uma criança com deformação facial, a escritora R.J Palacio decidiu escrever um livro que exercitasse a aceitação ao diferente. O sucesso de “Extraordinário” levou-o à natural adaptação para a linguagem cinematográfica, feita nas mãos de Stephen Chbosky. Diretor do sensível “As Vantagens de Ser Invisível”, ao qual também escreveu, Chbosky demonstra mais uma vez ter a sutileza em abordar temas difíceis com, ao mesmo tempo, leveza e tridimensionalidade. Para isso, aposta nas vozes das crianças e adolescentes da trama: a cada um deles é oferecida a oportunidade de expressar seus sentimentos em relação ao pequeno Auggie Pullman (Jacob Tremblay), a começar por ele mesmo.
Sofrendo de uma síndrome causadora de deformação facial, o garoto de 10 anos é forçado pelos pais a frequentar a escola pela primeira vez. Assim, este é o seu contato social mais intenso desde o nascimento e lidar com a rejeição extrema pela aparência será algo que deve lidar. Sua doçura, por outro lado, acaba atraindo alguns amigos, que são caçoados pelos colegas.
A partir de passagens em comum, a trama apresenta a visão de cada um daqueles afetados pela presença de Auggie, seus sentimentos e, essencialmente, a maquinação racional que motiva suas decisões. Dessa forma, torna-se possível acessar a dualidade de Jack Will (Noah Jupe), que transita entre a ânsia de uma nova amizade e a necessidade de aceitação ou o misto de emoções que toma conta de Via (Izabela Vidovic), apaixonada pelo irmão menor, mas que sofre com a falta de atenção. Ainda mais interessantes são os perfis de Miranda (Danielle Rose Russell) e Julian (Bryce Gheisar): a primeira, ex-amiga de Via, usurpa da sua história familiar como forma de se tornar interessante (e, portanto, notada); já o garoto, que comete bullying incessante, é mostrado como reflexo do preconceito e arrogância dos pais.
Por meio das intercalações narrativas, a história delineia-se de forma eficaz para o seu público-alvo – essencialmente infantil – sem cair no melodrama ou acostumar-se à superficialidade. “Extraordinario” é uma jornada emocional de compaixão e humanidade necessária como contraponto aos tempos turbulentos de intolerância em que nos encontramos.
Além de usufruir de um roteiro dinâmico, o filme aposta em referências ao mundo pop, que servem como inspiração aos principais temas abordados. Complementam narrativa e estética atuações de um elenco inspirado, desde Julia Roberts e Owen Wilson, que atuam como base moral da família, como dos jovens Noah Jupe e Izabela Vidovic, demonstrando sensibilidade na forma como tecem seus personagens.
O grande destaque é a performance de Jacob Tremblay, que despontou no filme “O Quarto de Jack”. A pesada máscara que cobre seu rosto não é capaz de influenciar negativamente na sua brilhante atuação, aguçada e inteligente, que pontua as emoções de seu personagem através dos seus olhares, além da entonação vocal e trabalho corporal.
Tocante na sua simplicidade, “Extraordinário” é um filme voltado para o público infantil que trabalha lições de tolerância, amizade e aceitação. Porém, a força da gentileza de Auggie Pullman mostra-se capaz de emocionar igualmente os adultos e contagiar a todos com a leveza de seu protagonista.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2017
Duração: 113 min
Gênero: drama, família
Diretor: Stephen Chbosky
Elenco: Julia Roberts, Owen Wilson, Jacob Tremblay, Izabela Vidovic
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