Por Luciana Ramos

 

Em uma expansão natural de uma das maiores franquias do cinema, a LucasFilms, sob controle da Disney, optou por aprofundar-se no passado de um dos seus personagens mais queridos, o fora-da-lei espacial Han Solo. No entanto, a produção deste filme destoou-se muito das outras, fugindo do sempre almejado controle midiático por parte da empresa.

O adiamento do lançamento de “Han Solo: Uma História Star Wars” foi essencialmente provocado por problemas de bastidores, em especial pela demissão de Chris Miller e Phill Lord. Notícias apontavam discordâncias sobre os caminhos escolhidos pelos diretores e a responsável pela franquia, Kathleen Kennedy, instigados por comentários maliciosos que questionavam a atuação de Alden Enrenreich.

Toda essa polêmica serviu para alimentar suspeitas sobre a qualidade final do produto, já que são poucos os casos, na história de Hollywood, onde projetos turbulentos conseguem mostrar-se coesos o bastante nas telonas. Esse questionamento, infelizmente, mostra-se acurado já nos primeiros momentos do longa, que sofre pela união de pouca inspiração visual e problemas de ritmo.

O roteiro dispõe-se a desnudar seu personagem principal, estabelecendo uma narrativa que permita apresentá-lo fresco, puro: um jovem sem conquistas que tenta se descobrir ao mesmo tempo que ambiciona por um futuro melhor. Apresentado no mundo de crime de Corellia, ele opta pela fuga, mas acaba deixando a namorada Q’ira (Emilia Clarke) para trás. A vontade de unir-se a ela novamente o faz adentrar ao exército do Império, primeiro como piloto para depois ser rebaixado ao posto de soldado comum.

 

 

Lá conhece os mercenários Beckett (Woody Harrelson) e Val (Thandie Newton) e, por impulso, determina que segui-los é a sua melhor opção – não antes sem conhecer em circunstâncias pouco favoráveis seu companheiro Chewbacca (Joonas Suotamo). Unido, o grupo é impelido a roubar uma altíssima quantidade de combustível afim de sanar a dívida do seu líder com a Aurora Escarlate. A organização, por sua vez, endossa a missão ao oferecer sua melhor general para ajudá-los, ninguém menos que Q’ira.

A caracterização deste longa como um heist movie (filme de roubo), aliado à intenção do roteiro em explorar uma jornada de amadurecimento possibilita uma abordagem menos determinista dos personagens. Ao longo dos outros filmes da saga, que trabalham com o conceito do maniqueísmo, “Han Solo: Uma História Star Wars” permite-se o trabalho de nuances, desencadeando em mudanças de percepções e condutas de Han (Alden Enrenreich) e seus amigos ao longo da trama.

Esta, no entanto, começa de maneira excessivamente teatral, explicitando um aspecto plástico indesejável, algo próximo de produções de teatro filmadas. O desenrolar da narrativa ajuda à obtenção de uma maior naturalidade, mistura de maior cuidado técnico a um investimento emocional por parte do público.

Ainda que seja capaz de garantir a simpatia e curiosidade, o roteiro decepciona pelos seus problemas de ritmo: avançando lentamente, sem nem sempre conseguir mesclar bem o tom cômico ao de aventura, ele só é de fato impulsionado no terceiro ato, quando a excitação toma conta das telas com as infinitas possibilidades de final que se abrem. Porém, a inconsistência retorna ao fim com a aposta em consecutivas reviravoltas, recurso narrativo que já se tornou clichê.

Outro ponto essencial dos filmes da saga é o apelo visual, seja nas maravilhas de cada planeta visitado ou no impacto das cenas de ação. Com exceção do final já explicitado, este filme relega-se a um patamar inferior, fruto da paleta de cores pouco inspiradas (que oscilam entre tons terrosos e acinzentados) e uma falta de identidade visual.

 

 

A contratação de Ron Howard às pressas para conduzir refilmagens foi, ao mesmo tempo, ousada pelos custos, e inteligente, pelo seu cacife. Porém, este tipo de intercorrência não permite a expressão artística de um diretor, visto que o material não lhe pertence totalmente. Isso, provavelmente, foi o que acarretou no formalismo visual da obra, que aposta em enquadramentos seguros e movimentos controlados. De diferente, só há a inserção de alguns planos que remetem ao western, como o abrir de pernas do protagonista ou as suas mãos tocando a arma.

A união dessas inconsistências técnicas e narrativas, por si só, demonstram a falta de controle do projeto, mas não justificam o problema principal: a abordagem. A opção de trabalhar o passado de um personagem extremamente querido levou à parcial descaracterização do mesmo: Han não é arrogante ou malandro, mas um garoto abobalhado que acredita em tudo que ouve. Ainda que pertinente à história, essas pequenas mudanças provocam um distanciamento do personagem, jamais suprimido.

Soma-se a isso a interpretação de Alden Enrenreich que, pode-se afirmar, é completamente desprovido de carisma. Suas tentativas de encarnar os trejeitos de Harrison Ford (diga-se de passagem, uma tarefa difícil) nunca saem do artificialismo e, nos momentos que a trama exige um pouco mais, ele não consegue entregar. De fato, os únicos atores que se destacam são Donald Glover, que consegue trazer malicia a Lando Calrissian e explorá-lo nos poucos momentos em cena, e Woody Harrelson, que oferece mais uma atuação crível e, assim, aprofundada.

A experiência de assistir “Han Solo: Uma História Star Wars” revela-se irregular. Com problemas de concepção, desenvolvimento de narrativa e pouca inspiração técnica, o filme mostra-se aquém das outras produções da saga Star Wars – conhecida pela excelência. Ainda assim, mostra-se empolgante ao final, quando enfim revela seu potencial de entretenimento.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 135 min

Gênero: ação, aventura, fantasia

Direção: Ron Howard

Elenco: Alden Ehrenreich, Woody Harrelson, Emilia Clarke, Donald Glover, Thandie Newton

 

Trailer:

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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