Por Murillo Trevisan
Há pouco, em um espaço-tempo não tão distante, a Sony Pictures vinha sofrendo com o processo criativo, sem saber muito bem como trabalhar seu personagem de maior notoriedade. A tentativa de um reboot em 2012 foi tão fracassada, que – apesar do resultado não ser uma obra tão terrível quanto “Homem-Aranha 3” (2007) – a fez desistir de temporariamente do personagem, deixando-o provisoriamente “emprestado” à Marvel Studios, que o incluiria no universo dos Vingadores nos cinemas.
Enquanto o cabeça de teia de Tom Holland (“Homem-Aranha: De Volta ao Lar”) não volta para as mãos da produtora, sua melhor opção foi deixar de lado o live-action e explorar o que há de melhor nas infinitas possibilidades de um multiverso. “Homem-Aranha no Aranhaverso” acerta em cheio ao optar por contar essa história em animação, nos apresentando um novo homem-aranha, até então pouco conhecido do grande público.
O roteiro escrito a duas mãos, por Rodney Rothman (“Anjos da Lei 2”) e Phil Lord (“Tá Chovendo Hambúrguer”), vai por um caminho arriscado quando o plot principal se baseia na existência de universos paralelos, visitando conceitos de física quântica e teoria da relatividade. Mesmo com a enorme probabilidade de confundir o espectador, o texto se propõe a facilitar o entendimento deixando toda e qualquer dúvida esclarecida. Boa parte desse mérito deve ser creditada a Phil Lord, que já provou seu potencial em transformar um pandemônio visual em caos organizado, como em seu maior sucesso “Uma Aventura Lego”.
Essa história toma como certo de que já conhecemos a origem de Peter Parker (Jake Johnson), fazendo diversas referências aos filmes anteriores e, nos apresenta Miles Morales (Shameik Moore), um jovem do Brooklyn que é incumbido de grandes responsabilidades ao tomar posse de grandes poderes, também sendo picado por uma aranha radioativa. A aventura toma proporções maiores quando o portal para o multiverso é aberto, trazendo outros aranhas para seu universo. Miles e Peter se juntam então à Spider-Gwen (Hailee Steinfeld), Porco-Aranha (John Mulaney), Peni Parker (Kimiko Glenn) e Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage) com o intuito de abrir novamente o portal e mandar cada herói de volta ao lar.
O maior trunfo do longa se dá na parte técnica, trazendo inovação estética ao mesclar a modelagem 3D sobreposta com pintura em 2D, simulando aquarela sobre tela. Mesmo com estilo próprio muito bem definido, ele não se limita à apenas uma linguagem visual, explorando as diferentes técnicas em cada personagem coadjuvante: a Peni Parker segue os traços orientais de manga, o Porco-Aranha pincela o estilo cartoon, enquanto o Homem-Aranha Noir é traçado em preto e branco, também utilizando isso como fonte de piadas.
“Homem-Aranha no Aranhaverso” sai da zona de conforto e vai fundo na inovação, se mostrando uma perfeita obra cinematográfica. A animação, que já vem dominando as premiações, se mostra uma das melhores dos últimos tempos e quiçá, o melhor filme já produzido do amigão da vizinhança.
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 117 min
Gênero: Animação, Ação, Aventura
Diretor: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman
Elenco: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Zoë Kravitz, John Mulaney, Nicolas Cage
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