Por Luciana Ramos
Muito do mérito do universo cinematográfico da Marvel (MCU) vem do planejamento cuidadoso das suas produções, tanto na esfera individual quanto no lugar que cada obra ocupa no projeto. Paulatinamente, ao longo de dez anos, elementos narrativos foram se aglutinando e culminaram no épico enfrentamento da maior parte dos super-heróis com o vilão Thanos em “Vingadores: Guerra Infinita”.
Longo, denso e multitemático, o filme certamente elevou o patamar do MCU, provocando a excitação pela finalização da história, que só chegará aos cinemas no ano que vem. Por isso que é tão acertado o lançamento de “Homem-Formiga e a Vespa” nesse ínterim, servindo como um necessário respiro a toda a dramaticidade, uma lembrança da capacidade do estúdio em produzir diversão de qualidade conciliando ação e humor.
Na trama, Scott Lang (Paul Rudd) encontra-se em prisão domiciliar pelos danos patrimoniais causados pelo seu envolvimento na guerra civil que pôs os heróis uns contra os outros. Ao final da pena de dois anos de reclusão, ele parece resignado, alternando uma rotina de ócio (preenchido com longos banhos de banheira e horas praticando bateria), visitas da filha e o desenvolvimento de uma empresa de vigilância com os antigos parceiros de crime.
Porém, uma enigmática visão referente ao tempo em que ficou preso no universo quântico o faz contatar Hope Van Dyme (Evangeline Lily) e seu pai, Dr. Hank Pym (Michael Douglas). Estes acham que Scott é a chave para o resgate de Janet (Michelle Pfeiffer), há muito perdida no universo microscópico. Juntos, eles armam um plano para salvá-la, mas são forçados a fugir das autoridades e de criminosos interessados na tecnologia de ponta desenvolvida pelo cientista. Ademais, são confrontados pela Fantasma (Hannah John-Kamen), uma misteriosa mulher com poderes que tem igual interesse no mundo quântico.
Bem definidos, as ações e conflitos revelam-se simples, porém consistentes até o final, contando com a ascensão gradual dos obstáculos para conceder ritmo à produção, que culmina em um clímax empolgante. Todo o escopo científico torna-se facilmente digerível com as (necessárias) explicações em pormenores, complementadas pelo humor inteligente, que recheia toda a obra. De fato, a comédia é um recurso melhor utilizado na sequência pela sua extensão a comentários de duplo sentido, inserção de ironias e quebras de expectativas visuais.
Como contraponto, o inevitável caráter didático parece excessivo quando usado para justificar a ausência de Lang no conflito de “Vingadores: Guerra Infinita”, assim como na passagem em que a Fantasma revela de forma verborrágica toda a sua origem. No entanto, o uso desse instrumento, confinado a essas poucas passagens, não é o bastante para prejudicar a trama como um todo.
O já citado humor, grande trunfo da produção, é explorado em sua magnitude na brincadeira com o tamanho das pessoas e objetos, o que não só provoca cenas extremamente divertidas por serem inesperadas (como o combate dos bandidos com um saleiro) como também serve para conceber dinâmica aos combates, muito bem coreografados e explorados por meio da diversidade de planos.
Contudo, é importante frisar que grande parte do sucesso do longa deve-se ao trabalho dos atores, que pontuam as falas de forma a enaltecer o que há de mais engraçados em cada uma delas. Ademais, em alguns casos, como o de Paul Rudd e Evangeline Lily, há a demanda de usar o corpo como instrumento para provocar risadas, mais uma vez trabalhando com a quebra de expectativas. A química entre eles, Michael Douglas e o excelente Michael Peña é um deleite, deixando sempre o espectador ansiando por mais dos personagens.
Unindo uma trama cômica a passagens alucinantes de ação, “Homem-Formiga e a Vespa” revela o que há de melhor no universo da Marvel, entretendo com qualidade sem perder o caráter despretensioso que tornou o personagem famoso nos cinemas. Em meio a batalhas intergalácticas e destrutivas, o longa é um bem-vindo respiro, que calha bem ao plano do estúdio de preparar emocionalmente o espectador para suas próximas empreitadas cinematográficas.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 118 min
Gênero: ação, aventura, ficção científica
Direção: Peyton Reed
Elenco: Paul Rudd, Evangeline Lily, Michael Douglas, Michael Peña, Laurence Fishburne
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