Por Luciana Ramos
“King Kong” nasceu como símbolo cinematográfico no ano de 1933 com a promessa de ser um escape para a Grande Depressão. Os feitos da época, trabalhados com a técnica stop motion, impressionaram e colocaram o personagem fictício no imaginário popular.
Como resultado, refilmagens ao longo das décadas procuraram revivê-lo nos cinemas, sendo “Kong: Ilha da Caveira” a mais nova tentativa. Afastando-se da narrativa tradicional, o filme firma-se como uma espécie de prequel, explorando a figura do grande gorila em seu habitat natural.
A trama passa-se no ano de 1973, logo após a retirada dos Estados unidos da Guerra do Vietnã. A tensão política com os soviéticos leva o Governo a autorizar uma expedição perigosa na última localidade inexplorada pelo homem, conhecida como Ilha das Caveiras.
Com suporte militar e cobertura da imprensa, na figura da fotojornalista Mason Weaver (Brie Larson), um grupo de cientistas bombardeia o solo do lugar como modo de estudá-lo. Tal escolha obviamente não traz bons frutos na medida em que desperta a fúria do Kong, que acaba por espalhá-los na ilha.
A narrativa então explora a luta dessas pessoas para sobreviver em ambiente inóspito, ao passo que apresenta melhor o gorila gigante, seu simbolismo e força bruta, assim como outros animais variados, em geral predadores que oferecem ameaça à vida humana.
A trama mostra-se atraente de início pelo frescor de um novo ângulo sobre um personagem tão conhecido, mas fracassa pela falta de investimento narrativo necessário para oferecer um mínimo de coesão. Atendo-se a repetições que cansam o espectador a partir do segundo ato – desde a similaridade das cenas de ação às citações exageradas ao filho de um dos soldados, Billy – o filme caminha rumo ao fracasso total ao aumentar exponencialmente a suspensão de descrença ao longo da projeção.
Se no começo incomodam alguns pequenos lapsos, como o fato de Brie Larson nunca ser capaz de tirar uma foto sequer nos momentos importantes, a partir do meio, com inclusões de cenas ridículas como a envolvendo Tom Hiddleston e um campo de gases tóxicos torna quase impossível a tarefa de levar o longa a sério.
A falta de esmero do roteiro é também claramente sentida pelo precário desenvolvimento dos personagens em geral. De fato, os papéis interpretados por Larson e Hiddleston, que deveriam atuar como protagonistas, permanecem descartáveis até o final. Consequentemente, não é possível estabelecer o elo necessário para que esse tipo de produção de certo.
A cena pós-créditos oferece indícios de uma possível sequência e inserção da narrativa de Kong em um universo compartilhado já “habitado” por Godzilla, seguindo a modinha mercadológica atual. O maior problema da empreitada será costurar uma história minimamente coerente com personagens separados por quarenta anos.
Diante da precariedade do roteiro, “Kong: Ilha da Caveira” revigora-se pela competência estética. Lindamente fotografado em tom amarelado, uma clara alusão à “Apocalypsie Now”, o filme oferece bons efeitos visuais, especialmente os que concernem aos animais do local. O ambiente é bem explorado pela direção de Jordan Vogt-Roberts, que se preocupa em diversificar os planos de modo a conceder variados ângulos de uma mesma cena.
Porém, os esforços técnicos não são capazes de apaziguar a fragilidade narrativa. Assim, “Kong: Ilha da Caveira”, mesmo belo, continua medíocre.
Ficha técnica
Ano: 2017
Duração: 120 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: aventura, fantasia
Elenco: Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson, John C. Reilly, John Goodman
Diretor: Jordan Vogt-Roberts
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