Por Luciana Ramos
O sucesso de “Uma Aventura Lego” abriu as portas para derivações cinematográficas envolvendo o brinquedo infantil e suas funcionalidades. Uma interessante ideia que não só serve de promoção da marca mas fornece a possibilidade de rever alguns dos principais personagens sob proteção da Warner.
É o caso de “Lego Batman”, que utiliza um dos heróis mais amados dos quadrinhos – e que mais ganhou adaptações cinematográficas – para ser vítima de uma análise debochada. O tom é dado logo antes da abertura, quando a narração em off descaracteriza a tela preta e o tom sombrio dos longas sobre o personagem.
Batman (voz de Will Arnett) é retratado como um playboy infantilóide que gosta de se isolar do contato humano e coleciona luxos, claro sinal de deslumbramento com sua posição de “vigilante noturno”. Devotado somente ao próprio tanquinho, nutre uma solidão irreparável pela falta de um família, que combate assistindo comédias românticas.
Porém, a nova comissária Barbara Gordon (voz de Rosario Dawson) promete por em risco a sua relevância, ainda mais questionada pelo Coringa (voz de Zach Galifianakis), com quem nutre uma relação interdependente, que questiona o cerne do seu papel de herói. Para piorar, a adoção equivocada do animadíssimo Dick Grayson (voz de Michael Cera) o força a sair da zona de conforto. Os conflitos, somados, o levam a repensar seu status, modo de agir e papel social.
Em meio à trama, surgem incontáveis gags que debocham não só do delineamento psicológico do Batman como a forma com que foi retratado no cinema e televisão ao longo das décadas, fornecendo algumas das melhores passagens do longa. De forma inteligente e escrachada, são feitas alusões aos seus conflitos existenciais e relacionamento com outros heróis – mostrado em duas passagens incríveis; uma envolvendo a Liga da Justiça e outra na recriação de uma famosa cena de “Batman Vs Superman”.
Apelativo aos adultos, também mostra-se eficiente ao público infantil, que apreciará as complexas cenas de ação, pontuadas com músicas pop escolhidas a dedo pelo próprio protagonista. Impulsionadoras da tensão, estas também revelam as características e potencialidades do brinquedo, em especial no clímax, o que exemplifica a inteligência do roteiro.
Não obstante, o uso de cenas live-action quebra a expectativa e eleva o tom da comédia, enaltecido ainda pela brilhante dublagem original de Will Arnett, que vem se consolidando no ramo depois de assumir a mesma função na ótima (e igualmente sarcástica) série “Bojack Horseman”.
De cutucadas em “Esquadrão Suicida” e da série de TV dos anos 60 a questionamentos sobre a essência do herói e lições sobre a importância da família, “Lego Batman” mostra-se um prato cheio para adultos e crianças. Puro entretenimento, revela sagacidade e audácia em falas embebidas de deboche sobre um dos heróis mais queridos de todos os tempos. Uma pena que os longas live-action sobre o herói ainda estejam presos a formulas estáticas e pouca imaginação na forma como lidar com seus personagens. Uma mudança à la Lego poderia cair muito bem.
Ficha técnica 
Ano: 2017
Duração: 104 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: animação, comédia
Elenco: Will Arnett, Michael Cera, Rosario Dawson
Diretor: Chris McKay
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