Por Melissa Vassalli
Dirigido por Julian Schnabel, “No portal da eternidade” aborda os últimos anos da vida de Vincent van Gogh, interpretado pelo ator Willem Dafoe, que recebeu sua segunda indicação ao Oscar por este trabalho.
No período retratado no filme, o pintor estava refugiado nas aldeias de Arles e Auvers-sur-Oise, para escapar das pressões que sentia em Paris. Tratado gentilmente por alguns habitantes e brutalmente por outros, ele continuava a contar com o apoio inabalável de seu irmão Theo (Rupert Friend), enquanto o também pintor Paul Gaugin (Oscar Isaacs) se afastava do amigo, devido à sua intensidade.
O cinema possui uma certa fascinação pela pintura. É bastante comum que diretores utilizem quadros como referência para construção da mise-en-scène de seus filmes, ou que a própria pintura se torne tema de obras, através de cinebiografias de pintores, como em “No portal da eternidade”. Para alguns autores, como Jacques Aumont, por exemplo, quando um filme faz citações explícitas a uma pintura corre sempre o risco de se colocar como uma arte menor, que precisa recorrer a outra, mais tradicional, para se elevar.
No caso de uma cinebiografia, fazer esse tipo de citação é inevitável. Schnabel nos coloca no centro das paisagens pintadas por Van Gogh para nos mostrar seu processo criativo, mas o diretor também trabalha bem os elementos propriamente cinematográficos para compor a narrativa. Na fotografia, destacam-se a utilização de lens flare como tentativa de captar a luz solar e amarelada que encantava Van Gogh; e a câmera na mão, agitada, que às vezes traz um ar documental ao filme, e em outras nos aproxima do artista – e que junto a algumas distorções na imagem representa a sua instabilidade.
Já o roteiro e a montagem trazem a decisão certa de não se preocupar em contar, de forma didática, toda a história do pintor. Alternando algumas passagens significativas de sua vida e focando sobretudo nos momentos mais prolíficos de sua criação, o filme traz a essência de Van Gogh. A interpretação de Dafoe também contribui para a qualidade da obra. Mais velho do que Van Gogh, que faleceu aos 37 anos, o ator utiliza sua maturidade a seu favor para atuar em um papel complexo.
Em meio a uma de suas maiores crises, Van Gogh mostra muita lucidez ao dizer que sua arte pertencia a um outro tempo que não aquele em que ele vivia. Mesmo sem ter vendido nenhum quadro em vida, há muito ele é um dos pintores mais conhecidos no mundo (e provavelmente um dos quais mais se fez filme sobre). Daqui para a eternidade, o seu tempo chegou.
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 111 min
Gênero: drama
Direção: Julián Schnabel
Elenco: Willem Dafoe, Oscar Isaac, Rupert Friend, Mads Mikkelsen
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