Por Luciana Ramos
Colt Seavers (Ryan Gosling) é um dublê experiente, que se arrisca nas mais diversas manobras – capotamentos, quedas livres, tiros encenados e todos os tipos de perigo. Apesar de não suportar Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson), o ator que coleta os seus louros indiscriminadamente (inclusive alegando fazer as próprias cenas de ação), ele arrisca a vida por ser apaixonado pela profissão…e pela operadora de câmera Jody Moreno (Emily Blunt).
A paixão foi o suficiente para o distrair dos procedimentos de segurança de uma cena vital e acabou causando um grave acidente, que o afastou da carreira e da amada. Movido pela culpa e sentimentos adjacentes de uma masculinidade bem frágil – algo explorado com maestria cômica por Gosling – ele ganha uma segunda chance ao ser convocado pela produtora Gail (Hannah Waddingham) para integrar a equipe de um novo filme de ação, uma distopia western-espacial dirigida por ninguém menos que Jody.
Lá, ele descobre as reais motivações da colega: Ryder está sumido há alguns dias e Colt deverá não só servir de dublê em cena como arriscar-se em uma busca frenética pelo seu paradeiro. Esta envolve lutas com props (objetos de cena), auxílio de cães treinados, automóveis sem controle, helicópteros instáveis e explosões de barco.
A ampla gama de situações que exploram os dotes do protagonista é o que realmente vale o ingresso. O roteiro trabalha em função dessas passagens, apostando em uma trama básica e sem muito fundamento. Os clichês dão vazão a plot twists facilmente identificados, inseridos como meras desculpas para as cenas de ação. Piadas sobre a falta de reconhecimento do dublê como parte essencial da equipe são colocadas didaticamente em diálogos, mas também reforçadas em sequências que usam a repetição (com um leve tom de sadismo) para atestar a excelência desses profissionais. A edição competente se soma a um belo trabalho de David Leitch (que começou a carreira como dublê) na direção. Os planos são diversos e grandiosos, enaltecendo o tom aventureiro da produção – e, assim, mitigando um pouco do cansaço narrativo.
O romance aparece para balancear a ação, apostando na química entre Gosling e Blunt para tanto. Além do talento óbvio de ambos para a comédia, o filme se beneficia da escolha da atriz em retratar Jody como uma diretora forte, mas humana e equilibrada, sempre disposta a aconselhar Colt. Nesse contexto, são inseridas pequenas piadas metalinguísticas, que brincam com possibilidades de linguagem visual e dão um charme à mais para a produção.
Esses elementos, no entanto, não são capazes de equilibrar a fragilidade do roteiro em boa parte do longa. No terceiro ato, busca-se ativamente a redenção com o investimento total em cenas de combates físicos, escalando o conflito a níveis realmente hollywoodianos. O uso prático de ferramentas de filmagem (como gruas) enaltece o tom de homenagem ao cinema, criando uma extravagância visual que encanta o suficiente para tirar o amargor da primeira hora de projeção.
“O Dublê” não pretende ser mais do que um filme divertido e palatável para consumo rápido, uma ode bem-humorada a uma das profissões mais substanciais (e menos apreciadas) do cinema. É um desses fenômenos que vão embora tão rápido quando chegam, sem deixar marcas profundas nas mentes dos espectadores – mesmo os mais entusiastas de filmes de ação. Aos que desejam de um pouco mais de substância narrativa, restará um leve tom de decepção.
Ficha Técnica
Ano: 2024
Duração: 2h 6m
Gênero: ação, comédia, drama
Direção: David Leitch
Elenco:
Ryan Gosling, Emily Blunt, Aaron Taylor-Johnson