Por Luciana Ramos

 

O projeto de expansão do universo da DC previa a exploração comercial de todos os seus ativos, incluindo os menos populares, já que tal jogada se mostrou valiosa para a concorrente Marvel. Porém, a produção de uma obra focada nos seus anti-heróis e vilões mais conhecidos fracassou retumbantemente: além de insosso, “Esquadrão Suicida” (2016) carecia de uma coerência narrativa mínima ou mesmo de uma pitada de ousadia capaz de fazer jus aos seus personagens.

Seguiu-se então uma proposta corajosa da Warner Bros., detentora da franquia: renovar a marca a partir de um novo filme. Diferenciado apenas pela adição de um artigo, “O Esquadrão Suicida” (2021) explora a genialidade “fora da caixa” de James Gunn, que garimpou os anacronismos e excentricidades do universo da HQ e a transpôs em um filme que claramente não se leva a sério – e, exatamente por isso, consegue superar as expectativas.

As introduções com linguagem de videoclipes que marcaram a produção anterior são substituídas por uma cena de abertura potente, que condensa ação e humor em um ritmo alucinante e determina o tom do filme. No meio desta sequência, são apresentados novos elementos que ressignificam o que está sendo visto. Ao brincar com o status de seus personagens e inserir elementos absurdos, Gunn estabelece um ar despretensioso que esquiva a obra de julgamentos mais elaborados. Ademais, a constante manipulação do público serve como um convite para uma participação mais engajada.

Assim como fez em “Guardiões da Galáxia”, o diretor deixa clara a intenção de arrancar risadas através das cenas de ação – que ganham artifícios coloridos ou inserções cômicas – enquanto oferece pitadas de aprofundamento a cada um dos integrantes do Esquadrão a partir de diálogos ou passagens em flashbacks bem costuradas.

É nítido o controle que tem do material.  Além dos pontos já citados, há a articulação de longas piadas, que se pagam pela subversão da expectativa, a surpresa pelo uso de elemento surrealista ou mesmo a incongruência. Os espectadores podem estranhar, por exemplo, a participação do motorista dos anti-heróis em alguns dos combates, já que não possui nenhuma habilidade para luta e nem mesmo está armado. Porém, é somente quando Arlequina (Margot Robbie) pontua exatamente o mesmo estranhamento é que a gag se concretiza e é traduzida em risada.

Afastando-se da obrigatoriedade de se encaixar como um produto do universo da DC, o novo Esquadrão Suicida explora suas alternativas com mais liberdade e acaba oferecendo um embasamento narrativo muito maior que filmes anteriores da franquia – e sensivelmente mais crítico, configurando uma nítida mudança de abordagem sobre o papel geopolítico dos Estados Unidos. 

Esteticamente, é também mais interessante, pois demonstra saber conciliar a sobriedade característica da marca com pequenas infusões de cores, seja na curiosa arma do Polka-Dot Man (David Dastmalchian) ou na tradução visual da psique de Arlequina, de longe a personagem mais trabalhada no longa. Os ambientes e sequências de luta são explorados através de extensa movimentação de câmera e condensados em edição acelerada. Esta é complementada com a inserção de gráficos que contextualizam o que está sendo visto.

Não obstante, o filme mostra-se superior ao anterior pelo bom uso de um elenco talentoso, encabeçado pelo multifacetado Idris Elbra. As interações do seu Sanguinário com o Peacemaker de John Cena baseiam-se na dinâmica do “casal estranho” e funcionam bem devido à capacidade dos dois em conseguirem acertar o tom (ao contrário do recente “Falcão e o Soldado Invernal”, onde o recurso pareceu artificial). Diante de um bom roteiro, os atores conseguem explorar maiores sutilezas e, assim, tornar seus personagens mais complexos e dignos de torcida.

“O Esquadrão Suicida” é mais violento, frenético, ambicioso, surreal e infantilizado (vide a escolha do adversário) que o anterior, mas infinitamente superior. 

Ficha Técnica

Ano:

Duração: 132 min

Gênero: ação, aventura, comédia

Direção: James Gunn

Elenco: Michael Rooker, Idris Elba, Viola Davis, Margot Robbie, Joe Kinnaman, John Cena,
David Dastmalchian, Daniela Melchior

Avaliação do Filme

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