Por Melissa Vassalli
Na comédia francesa “O Orgulho”, Neila Salah (Camélia Jordana) é uma jovem descendente de árabes que cresceu na periferia de Paris e sonha ser advogada. Em seu primeiro dia de aula, ela entra em conflito com Pierre Mazard (Daniel Auteuil), um arrogante professor conhecido por suas provocações aos alunos, o que inclui até piadas racistas. Um vídeo da discussão dos dois é postado na internet e, para evitar uma punição do conselho da universidade, ele concorda em treina-la para um concurso de eloquência. Ela, que não percebe de imediato sua verdadeira motivação, o aceita como mentor, por ver ali uma oportunidade de se destacar no curso.
O atrito inicial é logo superado e, com o decorrer do concurso, Neila e Pierre se tornam próximos, apesar de todas as suas diferenças. A única coisa que ameaça a relação dos dois é a possibilidade de que a aluna se dê conta do real interesse do professor em prepará-la para os debates, o que inevitavelmente acontecerá em algum momento.
Nós podemos nos antecipar a alguns acontecimentos do roteiro, pois o filme é realizado através de uma estrutura conhecida, mas isso não chega a ser um problema. Apesar de seguir uma linha narrativa clássica, o filme tem mérito por conta de sua execução. O tema central é atual e relevante, as piadas funcionam, a trilha sonora empolga, os atores demonstram afinidade entre si e seus personagens são carismáticos – a arrogância inicial de Pierre é desconstruída ao longo da história.
O problema é que, nessa tentativa de humanizar o professor através da amizade com Neila, o filme hesita em condená-lo. Pierre recebe sua redenção quase sem punição – e, conforme simpatizamos com ele, corremos o risco de esquecer o quanto isso era necessário.
“O Orgulho” defende a ideia de que todos estão sujeitos a errar. Conhecimento é poder e, conforme a protagonista adquire domínio sobre a língua e a retórica, também oprime seus antigos amigos, mesmo sem querer. Mas o professor representa uma parte da sociedade que sempre teve privilégios. Não se trata de esperar que ele fosse execrado até sua destruição. Pessoas como o personagem existem e precisamos encontrar uma maneira de lidar com elas. Mas ele poderia ao menos reconhecer de forma mais explícita que está nesse lugar privilegiado. Neila, apesar dele, do preconceito, do machismo e da descrença, luta para conquistar o seu espaço no mundo, mas sua resiliência e seu sucesso não isentam os demais de suas responsabilidades sociais.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2017
Duração: 95 min
Gênero: comédia
Diretor: Yvan Attal
Elenco: Camélia Jordana, Daniel Auteuil
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