Por Luciana Ramos
Uma das questões que mais aflige os pais de uma família com dois filhos ou mais concerne a interação entre as crianças. A cumplicidade desejada é ameaçada pelos ciúmes dos mais velhos em relação ao novo irmão. Esse é o caso de Tim Templeton (voz de Tobey Maguire), protagonista de “O Poderoso Chefinho”, que trata a questão de forma lúdica.
O garoto de sete anos vivia feliz e satisfeito tendo os pais só para si: eles embarcavam em suas aventuras, liam para ele e embalavam seus sonhos com uma música especial toda noite. Tudo muda com a chegada de um irmãozinho (voz de Alec Baldwin), que logo domina as atenções da casa, além do próprio espaço.
Para aumentar sua frustração, o bebê lhe parece estranho, sempre vestido com um terninho e carregando uma maleta secreta. Tim decide desmascará-lo a fim de voltar a ter sua soberania infantil; já o bebê, possui seus próprios planos secretos.
Baseado no livro infantil de Marla Fazee, o filme aposta na imaginação do protagonista como ferramenta para contar a história. Por conta desse atributo, situações absurdas são mais facilmente aceitas, já que são fruto do ponto de vista pouco confiável de Tim.
Assim, o roteiro joga despretensiosamente com a concepção de um bebê adulto que é executivo de uma corporação, além de inserirem fragmentos de sonhos na narrativa, um dos pontos altos do ponto de vista estético. Animados em 2D, eles trabalham as cores com maior profundidade e transformam a sala de estar no espaço sideral ou o quintal em uma floresta. Ademais, homenageiam ostensivamente o movimento do expressionismo alemão, adotando planos angulosos e jogos de luz e sombras para representar os pesadelos de Tim ganhando forma.
Também encaixam-se ao longo da narrativa pequenas referências muito mais apelativas para o público adulto. Estas incluem reproduções de filmes como “E.T”, “Mary Poppins”, “Pinóquio” e “De Volta Para o Futuro”. Com sua típica frase, “Você está demitido”, o próprio bebê engravatado lembra Donald Trump na sua época de apresentador do “Celebrity Apprentice”, enaltecido pela dublagem de Alec Baldwin, que o satiriza de forma recorrente no programa de humor Saturday Night Live.
O longa atende as suas expectativas de entretenimento mas, apesar de divertido, alonga-se mais que o necessário e oscila em ritmo, o que prejudica sua imersão. Esta também sofre pela falta de naturalidade com que as passagens mais dramáticas são apresentadas: a tentativa de manipulação do espectador para se emocionar em determinados momentos é demasiadamente explicita.
Esteticamente, há o desperdício do recurso 3D, quase imperceptível. Por esses motivos, ainda que provoque risadas e entretenha, “O Poderoso Chefinho” perde comparativamente para a animação “Cegonhas”, lançada em 2016 e cuja similaridade de tema é bastante sentida.
Ficha técnica
Ano: 2017
Duração:
Nacionalidade: EUA
Gênero: animação
Elenco: Tobey Maguire, Alec Baldwin, Lisa Kudrow, Jimmy Kimmel
Diretor: Tom McGrath
Trailer:
Imagens: