Por Luciana Ramos
“Perdido em Marte”, adaptação cinematográfica do livro de Andy Weir sobre um astronauta que usa a ciência para tentar se manter vivo no planeta vermelho, marca o retorno do diretor Ridley Scott à boa forma com estória extremamente técnica mas de apelo popular.
A tripulação do projeto espacial ARES, que tem como intuito a coleta de amostras de solo de Marte, é surpreendida por uma violenta tempestade de areia e vê-se forçada a abandonar o planeta às pressas. Porém, no processo, acaba deixando para trás o astronauta Mark Watney (Matt Damon), presumidamente morto.
Este acorda sozinho num planeta inóspito, com um pedaço de antena perfurando a sua barriga e sem opção de resgate: o próximo projeto pisará em solo marciano somente quatro anos depois. Para Mark, só há uma alternativa: usar a ciência para sobreviver.
Botânico de formação, ele constrói dentro da unidade de alojamento espacial condições perfeitas para o plantio de batatas, produto que tem em sobra. Ao mesmo tempo, tenta consertar os aparelhos de comunicação de expedições anteriores no intuito de estabelecer contato com a NASA. A instituição, por sua vez, observando via satélite as movimentações do astronauta no planeta, tenta pensar em um modo de resgatá-lo.
A obra, que recebeu aporte técnico da NASA, pode ser o longa de ficção mais acurado já feito sobre Marte. Porém, ainda que seja cientificamente correto e tenha a trama guiada pelo raciocínio lógico dos diversos personagens envolvidos no conflito principal, “Perdido em Marte” mostra-se ao longo de seus 141 minutos um filme extremamente divertido.
Este resultado não poderia ser obtido sem as necessárias adaptações que a obra literária sofreu na sua transposição para o cinema. No livro, o ponto de vista de Mark domina boa parte das páginas: o leitor acompanha sua rotina por meio de um diário de bordo com detalhadas explicações científicas.
Sendo o cinema uma obra essencialmente visual, tal recurso mostraria-se pouco eficaz. Por conta disso, houve um “enxugamento” das explicações teóricas, a substituição da escrita por vídeos digitais (uma espécie de vlog) e a intercalação das passagens do protagonista em Marte com cenas da tripulação na viagem de volta à Terra e da equipe da NASA.
Mais palatável e com ritmo ágil, o longa valeu-se ainda do bom humor característico de Mark para intercalar piadas embebidas de referências pop ao suspense natural da trama, o que intensifica a empatia pelo protagonista na sua jornada pela sobrevivência.
Igualmente essencial para o sucesso de “Perdido em Marte” é a interpretação de Matt Damon. O ator carrega sozinho boa parte das cenas dramáticas e o faz imprimindo credibilidade e carisma. Como resultado, os espectadores não só acreditam na sua capacidade intelectual como torcem pelo seu resgate. Alia-se a ele um elenco estrelado e competente que inclui Jessica Chastain, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Michael Peña, Sean Bean, Kate Mara e Chiwetel Ejiofor.
Ademais, há a qualidade técnica de Ridley Scott. O diretor conduz com fluidez as cenas, em especial na intercalação de panorâmicas que intensificam a solidão do protagonista com planos super fechados, responsáveis por transmitir as suas emoções. Porém, há um descuido no uso do 3D, completamente subaproveitado.
Em contraponto à logica de filmes de ação, que impulsionam as suas tramas através dos músculos dos seus personagens, o sci-fi “Perdido em Marte” utiliza o raciocínio lógico e o conhecimento científico como armas de escolha do astronauta herói Mark Watney, preso sozinho em um planeta inóspito. Intrigante, comovente e divertido, é definitivamente um filme que merece ser visto.
Ano: 2015
Duração: 141 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: ficção científica, ação, aventura
Elenco: Matt Damon, Jessica Chastain, Jeff Daniels, Sean Bean, Kate Mara, Chiwetel Ejiofor
Diretor: Ridley Scott
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