Por Luciana Ramos
Insatisfeita com a vida enquanto mãe e esposa, Linda (Meryl Streep) decidiu largar tudo e todos e nunca olhar para trás. Adotou o nome Ricki e montou uma banda de rock, The Flash. Toca em um pequeno bar toda semana e é popular entre os poucos frequentadores, muitos deles cativos.
Em contraponto, trabalha como caixa de supermercado para incrementar as contas, o que mal consegue: está prestes a declarar falência. Apesar de tudo, ela parece feliz e satisfeita com o rumo da sua vida, até que recebe um chamado do passado.
Seu ex-marido, Pete (Kevin Kline), entra em contato para conversar sobre Julie (Mamie Gummer), um dos três filhos que tiveram juntos, depressiva e com tendências suicidas após se divorciar. Ricki, diante da obrigação de assumir o papel de mãe depois de uma década, aceita a tarefa relutantemente.
Obviamente, é recebida por aqueles que abandonou com descontentamento, desconfiança e raiva mal disfarçada. Mesmo assim, ela decide enfrentar os fantasmas do passado, lutar pela melhora de Julie e pela reconquista da estima de seus outros filhos.
Caso se levasse a sério, “Ricki and the Flash: De volta para casa” seria mais um melodrama carregado de sentimentalismo e autodescoberta sobre o fortalecimento do relacionamento familiar. Felizmente, a proposta é exatamente oposta e a pretensão narrativa atém-se a contar uma boa estória. Assim, esvaziando-se a expectativa de deparar-se com grandes picos dramáticos, o público pode deliciar-se com uma trama simples e bem executada, que é capaz de divertir e emocionar.
O roteiro, a cargo de Diablo Cody, conhecida por ter escrito o premiado Juno (que lhe rendeu o Oscar de melhor roteiro) acerta ao construir personagens femininos embebidos de modernidade: complexos e um pouco confusos sobre o rumo de suas vidas. Soma-se a isso diálogos inteligentes, com pitadas de humor autodepreciativo.
No entanto, pode-se notar alguns problemas estruturais na trama. Com exceção dos papéis de Streep, Kline e Gummer, não existe preocupação no desenvolvimento dos demais personagens. Maureen (Audra McDonald), a nova esposa de Pete, por exemplo, é tida pelos três irmãos como figura materna, mas aparece em tão poucas cenas que mal é notada. Da mesma forma, não há aprofundamento suficiente nas relações familiares e maior detalhamento da estória pregressa, o que compromete a qualidade narrativa do longa.
Porém, tais falhas tornam-se pequenas diante das excelentes performances Meryl Streep e Mamie Gummer, sua filha na vida real e nas telonas. Na pele de uma roqueira com cabelos trançados, que joga as pernas para o alto enquanto toca sua guitarra, Streep prova mais uma vez que não existe papel que seja incapaz de fazer. É de fato impressionante a capacidade da atriz em imergir na persona de Ricki de modo a convencer mesmo os espectadores mais céticos da veracidade da sua personagem.
O talento de Gummer é também notável. A atriz, que é responsável por conduzir as ações dramáticas de boa parte do filme, o faz com segurança e naturalidade. Sua Julie é retratada com muito carisma, sem cair em estereótipos.
Como trunfo, o filme ainda conta com divertidíssimos números musicais cantados por Streep, cujo repertório inclui de Bruce Springsteen a Rolling Stones.
“Rick and The Flash-De volta para casa” não é um filme excelente, e nem pretende ser. Prefere abordar com simplicidade, inteligência e bom humor os dramas de uma família desestruturada e o faz muito bem. Um ótimo divertimento, em especial para os fãs de Meryl Streep, que terão a oportunidade de observá-la trocar sua pele de camaleoa mais uma vez nas telonas.
Ano: 2015
Duração: 101 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: comédia, drama
Elenco: Meryl Streep, Kevin Kline, Mamie Gummer
Diretor: Jonathan Demme
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