Por Murillo Trevisan

Com seu surgimento em 1939 pela editora Fawcett, o herói, por muito tempo conhecido Capitão Marvel, quase deixou de existir após sofrer um processo por direitos autorais, quando a própria DC acusou a criação de C. C. Beck e Bill Parker de ser plágio de sua principal estrela, o Superman.

Entre idas e vindas o personagem sofreu diversos reboots, ganhando série de TV e animações até ter seus direitos vendidos para a DC Comics, em 1972, onde – posteriormente – abandonaria de vez o nome que faz referência à principal concorrente da editora, adotando simplesmente a alcunha de “SHAZAM!”, o famoso grito que transforma o adolescente Billy Batson em o mais poderoso mortal da DC Comics, que forma as siglas da origem de seus poderes: A sabedoria de Salomão, a força de Hércules, o vigor de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio.

Diferentemente ao seu surgimento nos quadrinhos, onde comparações com o kryptoniano eram praticamente inevitáveis, a adaptação cinematográfica chega para tentar se distanciar – mantendo um pé naquele universo – de tudo que já foi feito na DCU nos cinemas, firmando de vez uma nova fase mais alto astral e despretensiosa.

No longa, Billy Batson (Asher Angel) é um garoto que se perdeu de sua mãe e vive em busca de encontrá-la novamente. Mudando de casa em casa com pais adotivos diferentes, um dia ele é levado para um local místico, onde encontra um ser mitológico que transfere seus poderes para o garoto. Automaticamente a criança de 14 anos passa a ter um corpo de um adulto, assumindo superpoderes e a responsabilidade de lutar contra os Sete Pecados Capitais.

Para início de conversa, “Shazam!” é um clássico filme de origem, abordando a típica “jornada do herói”. Mesmo que para alguns tal fórmula já tenha cansado, aqui se faz absolutamente necessário esse background, uma vez que trata-se de um conto “mágico” acompanhado de um visual espalhafatoso – vide o chamativo uniforme do protagonista. É fundamental vivenciar a experiência de Billy para criar uma conexão e contribuir na indispensável suspensão de descrença.

Além da apresentação do herói, também presenciamos o surgimento do vilão Dr. Silvana (Mark Strong) que, quando criança (Ethan Pugiotto), foi possuído pelos demônios dos Sete Pecados Capitais por não ter uma alma pura, revelada quando foi testado para ser o novo “Campeão”, semelhantemente ao que ocorreu com Billy. A construção narrativa inicial, puramente maniqueísta na distinção que tece entre o bem e o mal, posteriormente ganha profundidade no cuidadoso trabalho de roteiro de Henry Gayden (“Terra para Echo”).

Outro importante fator que favorece a narrativa é o tom cômico e inocente dos diálogos. Diferentemente do humor formulaico utilizado em outros filmes do gênero, este se assume de vez como uma comédia, inserindo excelentes piadas nos momentos mais inusitados – sendo com referências ao universo da DC, ou à grandes clássicos oitentistas como “Quero ser Grande”, de Penny Marshall.

Tal façanha também pode servir como um “recomeço” para o diretor David F. Sandberg. O pupilo de James Wan (“Aquaman”), que iniciou sua carreira no terror – com os grandes, mas fraquíssimos e esquecíveis “Quando as Luzes se Apagam” (2016) e “Annabelle 2: A Criação do Mal” (2017) – talvez encontre na comédia o talento que lhe faltou para pregar sustos. Aqui ele consegue conduzir com fluidez os 132 minutos sem que haja entraves na trama que possam atrapalhar o prazeroso ritmo.

Sem a pretensão de menosprezar os demais fatores já exaltados aqui, nada seria desse longa sem o fabuloso elenco. Zachary Levi, que ficou conhecido pela sitcom “Chuck” (2007-2012), assume a responsabilidade de dar a “nova cara” para o renascimento da DCU e cumpre bem o seu papel. Divertido e carismático, torna-se imediata a assimilação de seus trejeitos à uma criança de “quase” 15 anos. O elenco mirim também acrescenta muito ao sucesso do filme, além de Asher Angel (Billy Batson), somam-se Jack Dylan Grazer (“It: A Coisa“), Grace Fulton (“Um Novo Recomeço”), Jovan Armand (“Sins of the Father”), Ian Chen (“Fresh Off the Boat”) e Faithe Herman (“This Is Us”) – com destaque para os dois últimos que roubam a cena com suas peculiaridades. Juntos formam a família adotiva de Billy, que será de suma importância na evolução do personagem e para a solução da trama.

Sem grandes gastos de produção ou efeitos especiais exorbitantes, “Shazam!” não é perfeito, mas é tudo que se espera de uma adaptação de super-heróis. Um filme imensamente divertido, confiante e esperançoso.

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 132 min

Gênero: Ação, Aventura, Comédia

Diretor: David F. Sandberg

Elenco:  Zachary Levi, Michelle Borth, Djimon Hounsou, Mark Strong, Jack Dylan Grazer, Asher Angel

Trailer

Avaliação do Filme

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