Por Luciana Ramos

 

Em um universo dominado por tons escuros, discursos fatalistas e concepções maniqueístas de mundo, “Shazam!” (2019) trouxe a alegria juvenil de um herói atrapalhado. Seu humor autodepreciativo enaltecia o contraste com o seu físico de super-herói, traçando paralelos entre as angústias de salvar o mundo e os sentimentos de abandono que nutriam a essência de Billy Batson (Asher Angel).

Embora não tenha sido um sucesso retumbante, o filme garantiu uma sequência, reafirmando a tendência do mercado audiovisual em apostas seguras. Porém, em um espaço de quatro anos muito aconteceu, incluindo uma reestruturação na DC Filmes, divisão da Warner Bros. Esse panorama, conectado a um contexto de certo enfado com o gênero, ajuda a colocar o propósito de “Shazam! Fúria dos Deuses” em questionamento: basta reciclar os personagens, seus dilemas e vilões apocalípticos para oferecer um bom entretenimento?

Na trama do longa, Billy cumpre a sua missão como Shazam enquanto é invadido pela síndrome do impostor, tenta unir a sua família, superar os medos em se tornar adulto e, ainda por cima, lidar com as cobranças da cidade em que mora (ávida em catalogar os prejuízos físicos dos embates). Sem saber, ele rompeu a barreira entre os mundos dos homens e deuses, atiçando a raiva das Filhas de Atlas, que desejam reaver seus poderes. Em resposta, elas colocam a Filadélfia em uma redoma de destruição e ameaçam, com suas ações, a própria existência humana.

Héspera (Helen Mirren) e Kalypso (Lucy Liu) diferem sobre a melhor maneira de reaver a magia e os embates entre elas fornecem maior massa de manobra para Billy, que também possui dificuldades em unir seus irmãos em torno de um só objetivo. Nesse âmbito, o maior estremecimento é com Freddy (Jack Dylan Grazer), que esconde suas inseguranças em torno da sua identidade na persona heroica, enquanto planeja conquistar Anthea (Rachel Zegler).

“Shazam! Fúria dos Deuses” aposta no invólucro genérico, mesclando piadas autorreferentes com contrastes entre os comportamentos juvenis da Família Shazam e o peso do manto que carregam. Os embates são previsíveis, assim como as vilãs. Já os monstros, são de pedra, reciclando a ideia de “Esquadrão Suicida”. Ao final, ainda é oferecido um desfecho ex-machina revestido na obrigação implícita da DC de manter viva a esperança de produtos vindouros.

É possível encontrar facilmente a satisfação rasa de entretenimento no novo filme do Shazam – ele é fofo e engraçado na medida – mas, aos que experimentam o enfado com a reprodução de histórias similares à exaustão, fica difícil enxergar relevância em uma obra tão pouco inovadora.  

Ficha Técnica

Ano: 2023

Duração: 2h 10 min

Gênero: ação, aventura, comédia

Direção: David F. Sandberg

Elenco: Grace Caroline Currey, Zachary Levi, Lucy Liu, Helen Mirren, Rachel Zegler, Djimon Hounsou, Adrien Brody, Asher Angel, Jack Dylan Grazer

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