Por Luciana Ramos

 

Nas mãos talentosas de Denis Villeneuve, “Sicário: Terra de ninguém” impressionou pelo retrato cru e multifacetado da guerra americana contra os cartéis mexicanos. Pelos olhos inocentes da protagonista, escalada para uma misteriosa tarefa nas cidades mexicanas, a trama explicitou que ambos os lados trabalhavam (sujo) em prol dos seus objetivos pré-definidos, ferindo as pessoas que cruzassem seus caminhos sem piedade.

A notícia de uma continuação veio pelas mãos de Taylor Sheridan, roteirista que vem solidificado seu nome em Hollywood através da criação de histórias de cunho social, que não se esquivam de assuntos espinhosos ou da violência contida nestes – algo observável tanto em “A Qualquer Custo” quanto em “Terra Selvagem”, o qual também dirigiu. Sua ideia era aprofundar a discussão através do foco em Alejandro (Benicio Del Toro), promotor de justiça que, com a morte da família, torna-se um mercenário a serviço daqueles interessados em combater o tráfico.

O palco da nova saga é a fronteira entre os dois países, uma escolha delicada visto as recentes polêmicas envolvendo imigração e as condutas do presidente Donald Trump. Sua ideia era mostrar a complexidade das ações ocorridas ali, desencadeadas no filme a partir de um atentado terrorista no Texas. Ao descobrir que um dos responsáveis entrou sem permissão nos Estados Unidos com a ajuda de coiotes, a secretaria do Governo, por baixo dos panos, chama o obscuro agente Matt Graver (Josh Brolin) para ação, designando uma equipe para que ele controle a situação.

 

 

Dado o fato de que as travessias são supervisionadas por um poderoso cartel, seu foco de é criar uma guerra entre narcotraficantes capaz de diminuir exponencialmente os fluxos migratórios, uma forma escusa do Governo americano agir sem assumir responsabilidades formais. Para isso, ele arma o sequestro da filha de um chefão das drogas, Isabel Reyes (Isabela Moner), e culpar a facção oposta. A tarefa fica a cargo de Alejandro, responsável por abduzi-la e, posteriormente, deixa-la em território inimigo. Este vê o plano como uma forma de vingança pessoal, mas o convívio com a menina, ainda que escasso, desperta sentimentos que a muito ele enterrou. No entanto, não há espaço para sentimentalismos em uma operação calculada e, diga-se de passagem, cruel em sua concepção.

Logo apresentado, o conflito ascende rapidamente, criando a tensão necessária para prender a atenção do espectador. Frente aos inúmeros desafios interpostos, a fatalidade parece ser o destino de todos os personagens envolvidos, o que torna a trama intrigante. Paulatinamente, são apresentados novos elementos que, sobrepostos, oferecem uma visão multifacetada do tema. No entanto, sem a direção precisa de Villeneuve, que sabia explorar os recursos estéticos ao seu dispor, o longa perde a sensação de urgência do seu antecessor.

Atendo-se a escolhas mais formalistas, Stefano Sollima mal utiliza a combinação de planos panorâmicos, câmeras na mão e de visão noturna que, unidas, causavam perturbação, símbolo da miopia do público em conectar todos os pontos narrativos até o final da projeção. Ao trabalhar nos moldes hollywoodianos, “Sicário: Dia do Soldado” distancia-se do cinema de arte para cair no de gênero e, assim, consolida-se como uma experiência inferior.

 

 

Porém, seria injusto atrelar essa sensação apenas ao trabalho estético. Na sequência, Taylor Sheridan abandona sua característica essencial, a de construir roteiros eficientes por serem enxutos, onde não cabem arestas soltas. Preocupado com a evolução da dramaticidade, ele atém-se a elaborar obstáculos para seus personagens que, em resposta, perdem-se em suas motivações. Entre reviravoltas, alguns pontos soltos, como a questão do terrorismo, são deixados pelo caminho, culminando em um final que se estende além do necessário, apostando no clichê de seguidas reviravoltas para chocar seus espectadores e, dessa forma, relegando-se a mediocridade de tentar agradar a qualquer custo.

Ainda assim, até esse momento, o filme mostra-se eficiente em manter a curiosidade acesa, muito por conta dos talentos de Josh Brolin e Benicio Del Toro (em especial) e da química entre eles. Por outro lado, “Sicário: Dia de Soldado” perde quando aposta em Isabela Moner, que ainda não conseguiu controlar o impulso de recorrer a uma atuação gritada e exagerada para transmitir os sentimentos de sua personagem. Como resultado, há a montagem de um panorama interessante sobre os conflitos fronteiriços que se perde diante do trabalho oscilante de elementos narrativos e estéticos. Assim, torna-se mais um exemplo de que nem sempre realizar sequências de filmes bem-quistos é uma boa ideia.

 

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 122 min

Gênero: ação, crime, drama

Direção: Stefano Sollima

Elenco: Benicio Del Toro, Josh Brolin, Isabela Moner, Catherine Keener

 

Trailer:

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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