Por Luciana Ramos
Avril (Camille Cottin) é uma mulher centrada e responsável de trinta anos. Trabalhando em uma empresa de aromas, sonha com uma promoção e o eventual término do mestrado do marido, para que ele possa ajudar nas finanças da casa. Sua situação é ainda mais delicada por ter que sustentar a mãe, Mado (Juliette Binoche), cuja mentalidade parou no auge da sua adolescência. A bordo de sua inconfundível motocicleta rosa, Mado vive despreocupadamente, sem emprego ou perspectivas. Ela, porém, não parece sentir-se culpada por depender tão fortemente da própria filha.
Exatamente por isso, não recebe com bom grado a notícia de que Avril está esperando um bebê. Sua rejeição ao papel social de avó a faz buscar no ex-marido Marc (Lambert Wilson) o escapismo perfeito em uma noite de sexo. Como resultado, termina engravidando também. Conflitante em relação ao que fazer, decide manter a gravidez, mas atém-se de contar à filha.
“Tal Mãe, Tal Filha” pauta-se no conflito de gerações para tecer uma comédia estilo screwball sobre a inversão de papeis sociais. Assim, pauta as diferenças de suas personagens na influência que uma exerce sobre a outra: nota-se que a obsessão de controle de Avril é diretamente relacionada à falta de comprometimento da mãe; isso, por sua vez, acentua a despreocupação de Mado com as praticidades da vida, visto que sua filha as assumiu.
A dinâmica, igualmente problemática e simbiótica, entra em conflito com a perspectiva da chegada de dois bebês em poucos meses, que servem de gatilho para Avril despejar todas as suas frustrações, amplificadas pelas oscilações hormonais. Trabalhando neste contexto, a trama oferece boas passagens, como as cenas em que o espírito livre de Mado é contraposto ao perfil conservador dos pais de Louis (Michaël Dichter). No entanto, nunca ultrapassa a segurança da superficialidade para de fato abordar o tema a que se propõe, relegando-se a uma série de tiradas cômicas.
Estas, por sua vez, variam em escala, provocando uma oscilação de ritmo. Entretanto, as eventuais falhas de estruturação de roteiro são bastante suavizadas pela atuação do elenco. Rosto novo da comédia francesa, Camille Cottin mostra-se excelente no domínio do humor, sabendo explorar o máximo potencial de cada cena.
O maior destaque fica por conta da talentosa Juliette Binoche, mais conhecida por papeis dramáticos. Ela exerce toda a sua versatilidade na construção de uma personagem carismática o suficiente para ser adorada, apesar das condutas irresponsáveis. Fornece, dessa forma, humanidade à Mado e é responsável por algumas das melhores cenas do filme.
O longa de Noèmie Saglio, primeiro em que assume a direção sozinha, funciona como uma comédia despretensiosa que aborda uma situação inusitada: mãe e filha completamente diferentes que se veem grávidas ao mesmo tempo. Fornecendo boas sequências cômicas, depende em grande parte do talento do seu elenco para suprimir a falta de profundidade com que o tema é retratado. Ainda que não atinja todo o seu potencial fílmico, consegue cumprir sua função de arrancar risadas.
*Essa crítica faz parte da cobertura do Festival Varilux de Cinema Francês 2017
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Ficha técnica
Ano: 2017
Duração: 94 min
Nacionalidade: França
Gênero: comédia
Elenco: Juliette Binoche, Camille Cottin, Lambert Wilson
Diretor: Noèmie Saglio
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