Por Luciana Ramos
Louvado no mundo do cinema por suas contribuições ao longo das décadas, Robert De Niro deu vida a personagens icônicos, como o boxeador Jake LaMotta de “Touro indomável”. Nos últimos anos, revelou uma predileção por comédias, que de modo geral lhe exigem muito pouco em termos de performance. A irregularidade qualitativa de tal escolha rendeu ótimos frutos, como “O Lado Bom da Vida” e “Um Senhor Estagiário” e outros péssimos, como é o caso de “Tirando o atraso”.
O filme de Dan Mazer, antigo colaborador de Sacha Baron Cohen, apela para todos os lados numa tentativa exaustiva de fazer graça, não poupando negros, gays, mulheres ou até hippies. Estereotipado ao cúmulo e de um mau gosto absurdo, não passa de uma concatenação de cenas que exploram os limites da degradação da carreira de De Niro.
A trama acompanha Dick (Robert De Niro) que, após a morte da esposa, pede ao neto engomadinho Jason (Zac Efron) que lhe dê uma carona até Boca Raton. Logo, a viagem revela-se numa armação: o avô, após décadas de fidelidade, quer aproveitar a liberdade para transar e, de quebra, oferecer um final de semana inesquecível ao neto, que está noivo.
Assim, os dois acabam indo para o spring break de Daytona Beach, onde Jason reencontra uma antiga colega (Zoey Deutch) ao passo que Dick conhece a fogosa Lenore (Aubrey Plaza).
Obviamente, várias confusões sucedem-se e os mais variados temas são explorados nas exaustivas tentativas de fazer humor, incluindo piadas com pedofilia, antissemitismo, estupro de prisioneiros, sémen e a palavra N (que Tarantino adora usar).
A agressividade como arma do riso, oposicionista ao politicamente correto, tornou-se bastante popular ao longo da última década mas, ao que parece, esgotou-se. Como sobra de uma crítica social restou apenas uma imensa superficialidade pautada na degradação dirigida a grupos sociais específicos que variam de acordo com a conveniência.
Tal lógica transparece em “Tirando o Atraso” em diversos momentos, desde o fato de Dick chamar o seu neto certinho que trabalha no mundo corporativo repetidas vezes de lésbica ou o carro rosa que dirigem de absorvente gigante a outra cena, quando olha um grupo de garotas juntas e profere: “Uma dessas três mulheres tem herpes”.
Como resultado, há o embaraço do espectador em ter de aguentar uma obra tão rasa e inconsistente ao longo de mais de uma hora e meia. Para piorar, há a pretensão de acrescentar maior densidade à trama nos seus momentos finais com Dick distribuindo lições de morais.
Resta, portanto, o questionamento do que levou os atores a se submeterem a um trabalho como esse. Além de Robert De Niro, que usou esse filme como trampolim para nada além da degradação de sua imagem, tem-se Zac Efron, especializado em comédias ruins e tirar a roupa em qualquer oportunidade oferecida. Para completar, há Aubrey Plaza prestando um desserviço à sua breve carreira, sujeitando-se à agressões verbais e físicas absolutamente sem graças ao interpretar um papel que une todos os estereótipos negativos femininos.
Diante de tantos problemas estruturais de roteiro, torna-se impossível destacar aspectos positivos em “Tirando o Atraso”. Absolutamente irrelevante e pouco inspirado, é um dos poucos filmes que se encaixam na categoria “pura perda de tempo”.
Ano: 2016
Duração: 102 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: comédia
Elenco: Zac Efron, Robert De Niro, Aubrey Plaza, Zoey Deutch
Diretor: Dan Mazer
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