Por Luciana Ramos
O Dr. Bennet Omalu (Will Smith) é um médico-legista nigeriano extremamente qualificado que trabalha em um hospital em Pittsburgh. Conhecido pelo estranho hábito de falar com os mortos, ele fica intrigado ao receber o corpo de Mike Webster (David Morse). Este era um astro do futebol americano que virou um sem-teto viciado em remédios e veio a falecer precocemente – aos 50 anos- no carro onde morava.
Certo de que há uma explicação para um comportamento tão errático, Dr. Omalu decide pagar do próprio bolso por uma investigação completa do cérebro do falecido e descobre uma série de coágulos que destruíram boa parte da massa encefálica.
Com a progressão de outros casos similares e muito estudo sobre as regras do futebol americano, ele descobre que tais manifestações comportamentais são sintomas de uma doença nova intrinsecamente relacionada ao esporte. Batizada por ele de ETC, resulta dos impactos a que o cérebro é submetido durante os jogos, o que causa pequenas concussões não identificadas em outros exames.
Ansioso em dividir sua descoberta, Dr. Omalu conta com a ajuda do Dr. Julian Bailes (Alec Baldwin) para publicar um artigo científico e procura a NFL para avisá-los do problema mas, em troca, é descreditado e humilhado. O médico, um entusiasta dos ideais americanos, então descobre as engrenagens perniciosas que movem essa grande corporação, travando uma batalha à la Davi e Golias.
Baseado em fatos reais descritos em um artigo da GQ que serviu como base para o roteiro, a história remonta os episódios importantes de uma descoberta que chacoalhou as fundações culturais americanas, bastante ligadas ao esporte. Extremamente interessante pela temática, o filme não demora a estabelecer seu conflito principal e consegue explorar com eficiência as nuances de seu personagem, desde o seu caráter obsessivo ao seu nível de ingenuidade, consequência da sua retidão moral.
Entretanto, ainda que seja bom em linhas gerais, “Um Homem entre Gigantes” apresenta alguns problemas estruturais de roteiro que prejudicam a imersão do espectador. Primeiramente, há a morosidade do avanço narrativo, que abusa de passagens com argumentos repetidos que podiam ser facilmente suprimidas. Ademais, há a intercalação do conflito ao romance do protagonista com uma mulher recém-imigrada aos EUA (Gugu Mbatha-Raw), prejudicial por dois fatores: além de ser uma distração desnecessária à trama, também sofre por ser extremamente morno e, portanto, pouco cativante.
De fato, o longa sofre como um todo pelo tom excessivamente racional adotado que, ainda que seja condizente com o delineamento da personalidade do protagonista, mostra-se incapaz de despertar alguma reação no espectador além da curiosidade pelo desenrolar dos fatos.
Visualmente, “Um homem entre Gigantes” também apresenta problemas dada a necessidade do diretor Peter Landesman de agregar cenas com a câmera na mão, planos filmados através de reflexos de elevadores e janelas e mudanças bruscas de foco a um filme predominantemente clássico em formato. Como resultado, as composições visuais parecem rasas e chegam a incomodar em determinados momentos.
O novo filme de Will Smith, claramente um veículo para demonstrar o talento do ator, reergue-se nos seus momentos finais, mas estes não são capazes de suprimir a falta de conexão emocional estabelecida ao longo de suas duas horas.
Ainda que decepcione um pouco pela falta de profundidade da abordagem do tema, consegue ser interessante pelo teor das descobertas do Dr. Omalu, sendo recomendado para entusiastas do esporte ou da ciência.
Ficha técnica
Ano: 2015
Duração: 123 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: biografia, drama, esporte
Elenco: Will Smith, Alec Baldwin, Albert Brooks
Diretor: Peter Landesman
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