Por Luciana Ramos

Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher que não consegue se adequar ao seu meio social devido a sua incapacidade de dominar os impulsos sexuais. É de tal modo dominada pelo desejo que não consegue interpretar a falta de reciprocidade das suas fantasias, o que provoca reações erráticas. Ela é incompreendida pela família, que reprime seu comportamento e vê no casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl) a solução para seus problemas. Tal escolha, hoje vista como retrógrada e machista, alinha-se ao pensamento vigente da época – a década de 50 – em especial ao que concerne o papel da mulher. Por ter se casado sem amor, ela abdica ao sexo e o instrui a procurar prostitutas para se satisfazer. Ainda assim, conforma-se à pressão social de procriar. A impossibilidade da sustentação de uma gravidez é atrelada às suas pedras nos rins (referente ao título original, “Mal de Pierres”) e, assim, Gabrielle é internada em uma clínica.

 

Lá, conhece o tenente André Sauvage (Louis Garrel), aclamado desde sua participação na Segunda Guerra. Nele, Gabrielle vislumbra o amor. Na verdade, sua atração vem muito mais da possibilidade de exprimir seus desejos em um ambiente recluso e distante dos olhos julgadores dos outros. Terminado o tratamento, ela retorna à casa que divide com o marido e se vê completamente inapta a seguir a vida de casada: se antes era difícil distinguir fantasias da realidade, agora mostra-se impossível desvencilhar-se do sonho romântico.

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A trama foca essencialmente no seu ponto de vista, nas suas experiências, marcadas pelos poucos dias em que vislumbrou o romance e a consequente espera pelo contato do tenente. A experiência fílmica, portanto, é carregada essencialmente na interpretação de Marion Cotillard. Nome de peso do cinema francês, ela se entrega totalmente, mais até do que de costume, já que descarrega toda a carga dramática da sua personagem em uma atuação física, visceral.

Ainda que consiga traduzir a angústia profunda de Gabrielle, Cotillard não é capaz de corrigir o tratamento que o roteiro confere à personagem. Se de início ela era só compulsão, depois do casamento tornou-se conformidade, o que causa estranhamento dada a sua carga sexual, bastante enfatizada nas primeiras cenas. Posteriormente ao “instante de amor” proposto no título, ela se torna obsessão e, nesse momento, os contornos suaves são perdidos. Seu comportamento para com aqueles ao seu redor é muitas vezes cruel; seus anseios românticos são desgastados por uma trama excessivamente lenta, que se estende muito além do necessário. A narrativa redime-se parcialmente ao final através do uso de uma reviravolta que transforma o entendimento. Eficiente, oferece oura camada de interpretação, bonita e em sintonia com a proposta do tema.

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Se o roteiro explora a dor e angústia de Gabrielle sem de fato propor-se a compreendê-la, a estética trabalha melhor os elementos apresentados. Nas mãos de Nicole Garcia, a imponência da natureza ganha destaque, oferecendo planos belíssimos. Estes são costurados em transições extremamente fluidas, através de elementos como o cabelo ou vestido de um personagem, o que aumenta a sensação de continuidade.

“Um Instante de Amor” revela a dependência da protagonista por esse sentimento para atingir a completude. O resultado, porem, é dúbio: suas paixões e impulsos são bem fundamentados ao começo, mas perdem um pouco do brilho por serem desenvolvidos enquanto puros anseios egoístas. Ainda assim, é capaz de ser apreciado pela beleza, tanto das paisagens quanto da interpretação de Marion Cotillard.

 

Pôster:

 

um instante de amor poster

 

Ficha técnica


Ano:
 2017

Duração: 114 min

Nacionalidade: França

Gênero: drama, romance

Elenco: Marion Cotillard, Louis Garrel, Alex Brendemühl

Diretor: Nicole Garcia

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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