Por Luciana Ramos
No texto do escritor americano August Wilson estão concomitantemente o maior trunfo e o grande problema de “Um Limite Entre Nós”. Autor da aclamada peça da Broadway, transpôs a ação dramática em um roteiro que tece de forma complexa o caráter de cada membro de uma família disfuncional, mais unida pelo senso de dever do que pelo amor.
Em seu pilar central esta Troy Maxson (Denzel Washington), o patriarca, que passa os dias se vangloriando por meio de histórias fabulosas de sua vida. Em cada uma delas deixa escapar o ressentimento que sente pela posição social que ocupa, culpando os brancos por não ter alcançado maior sucesso profissional. A raiva mal camuflada manifesta-se na sua interação com sua mulher e filhos: de perfil arrogante, acredita que seu papel limita-se ao sustento da casa, não concedendo maiores demonstrações de afeto ou mero respeito aos demais.
Seu maior conflito é com Cory (Jovan Adepo), que deseja jogar futebol americano profissionalmente. Dada a sua angústia por ter fracassado no mundo dos esportes (quando na verdade já era velho para exercê-lo), Troy tenta barrar seu filho mais novo do seu sonho. Sob os discursos segregacionistas, frutos da época retratada, revela-se uma dinâmica familiar perturbadora, em que o sucesso do filho serviria ao pai apenas como lembrete da sua própria derrota.
No meio das tensões está Rose (Viola Davis), esposa relegada ao segundo plano, cumprindo seu papel com candura e servidão. Seu maior desejo é a construção de uma cerca. Mais do que oferecer proteção exterior, esta simboliza o cerceamento da liberdade dos integrantes da família frente ao perfil dominador do patriarca.
A crescente tensão é retratada essencialmente por meio dos diálogos que, embora extremamente interessantes pelos subtextos que oferecem, acabam por tornar o filme pouco dinâmico. A verborragia é, de fato, o maior problema de “Um Limite Entre Nós”, o que o separa do panteão dos grandes filmes. A transposição da peça para o cinema não considerou as exigências específicas do meio: as cenas ocorrem basicamente na casa dos Maxson, sendo bastante contida a locomoção dos atores, ao passo que nenhuma ação dramática é desenvolvida sem a interferência do texto.
Sendo assim, não concretiza sua promessa fílmica, ainda que ofereça bom conteúdo. Essencialmente, cansa o espectador pelo alongamento desnecessário das cenas. A estética, como indicado, não oferece nada além do básico, sendo o maior destaque da produção a atuação do seu elenco.
Nem este aspecto, no entanto, prova-se fruto da direção, dada a familiaridade dos atores com o roteiro, já que todos trabalharam na produção da Broadway. Ainda assim, merece destaque a atuação de Viola Davis, que acaba de conquistar o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por este filme. Ela consegue imprimir força na fragilidade de Rose, também em conflito pelo papel que desempenha. Sua atuação cresce na mesma gradação do longa, revelando aos poucos o âmago de sua personagem.
“Um Limite Entre Nos” é um caso ambíguo em que os diálogos atuam como chamariz e repelente do espectador. Ao passo que consegue destrinchar as temáticas apresentadas por conta de sua verborragia, sucumbe enquanto obra audiovisual pela fraqueza estética.
Ficha técnica
Ano: 2017
Duração: 139 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: drama
Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen McKinley Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Mykelti Williamson
Diretor: Denzel Washington
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