Por Luciana Ramos
Uma trama extremamente leve e graciosa. Um excelente elenco. Bons diálogos. Pitadas de humor. Temas essencialmente contemporâneos, com foco especial nos relacionamentos interpessoais e papel da mulher no mundo moderno. Todos esses fatores somados descrevem o trabalho de Nancy Meyers, roteirista e diretora de “Simplesmente complicado”, “O amor não tira férias” e “Alguém tem que ceder”.
No seu novo filme, Meyers explora o gap geracional entre os idosos analógicos e os jovens digitais através da estória de um aposentado que resolve voltar ao trabalho para sentir-se mais uma vez essencial.
O septuagenário Robert De Niro interpreta Ben Whitaker, viúvo aposentado que se divide entre aulas de tai chi chuan e funerais de amigos. Incomodado com o vazio dos seus dias, decide candidatar-se a uma vaga de estagiário sênior em uma start up de sucesso, o e-commerce de moda “Sob Medida”.
Lá, é encaminhado para trabalhar diretamente com a fundadora e diretora Jules Ostin (Anne Hathaway), que o aceita com relutância, devido ao seu perfil centralizador. Este, claramente um dos ingredientes da rápida ascensão da empresa (em apenas um ano e meio), a torna extremamente assoberbada e a priva de atividades básicas como comer, dormir e passar tempo com a família.
Ainda que conte com o apoio do marido Matt (Anders Holm), que exerce as funções de pai 24 horas e dono-de-casa, Jules vive sob pressão. Além de ter que aturar o julgamento das outras mães pela ausência na rotina de Paige (Jojo Kushner), ela vê-se forçada por investidores a abrir mão do papel de CEO do negócio que fundou e tem que escolher entre vários candidatos homens um novo chefe para si.
A sede do e-commerce Sob Medida é uma típica empresa moderninha: sem paredes, informal, completamente computadorizada e com toques hipster, como o fato da chefe andar de bicicleta pelo seu amplo salão.
Ben, de terno e gravata, usuário de alarmes analógicos e sem conhecimentos sobre mídias sociais, é a representação do seu extremo oposto. Visto como um simpático e obsoleto velhinho, é relegado a ficar olhando o computador em busca de tarefas.
Ao invés de ressentir-se, usa a simpatia e experiência para, aos poucos, tornar-se o agente estabilizador da rotina de Jules, a ajudando nos conflitos profissionais e domésticos. Assim, as diferenças geracionais vão se apaziguando e dando espaço a uma bela amizade.
Através da inserção do protagonista em um ambiente que lhe é estranho, Meyers discursa acerca do papel das novas e disruptivas tecnologias no aprofundamento do gap entre jovens e idosos, usando piadas situacionais para afirmar seu ponto de vista. Do mesmo modo, utiliza o arco dramático de Jules para tratar sobre a cobrança social que a mulher moderna sofre. Assim, ainda que propositalmente pareça um filme ingênuo e superficial, “Um senhor estagiário” trata de temas contemporâneos e relevantes.
A narrativa é acentuada pela boa química entre os atores principais. O veterano Robert de Niro domina as cenas em que atua em um exercício constante de carisma e talento. Em sua companhia, Anne Hathaway oferece uma atuação sólida no delineamento de uma personagem dedicada, brilhante, porém imatura profissionalmente, o que lhe torna frágil.
Com bons diálogos e personagens cativantes, “Um senhor estagiário” esbanja simpatia numa trama que valoriza a capacidade e experiência de vida dos mais velhos. Sem muitos ápices dramáticos, é o típico filme que entretém, arranca sorrisos e relaxa o espectador. Uma excelente pedida.
Ano: 2015
Duração: 121 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: comédia
Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo
Diretor: Nancy Meyers
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