A notícia do cancelamento de três séries originais do serviço de streaming Amazon Prime Video, “Jean-Claude Van Johnson”, “One Mississippi” e “I Love Dick”, deixou muitos surpresos, dada a boa recepção que tiveram. Em especial, as duas últimas foram aclamadas pela crítica por abordar o ponto de vista de mulheres em tom cômico bem dosado. À primeira vista, parecia que a decisão provinha de o fato dessas produções terem sido primeiramente desenvolvidas por Roy Price, que comandava a programação original do canal até ser afastado no final do ano passado após múltiplas acusações de assédio sexual. Injustamente, essas séries iriam pagar o preço pela associação. Porém, em nota, Jeff Bezos, que agora ocupa o lugar de Price, anunciou uma estratégia muito mais ampla da empresa.

 

Em nota, ele deixou clara a sua intenção de substituir programas que atuam bem em nichos por outros, com mais apelo de massa. Por isso, séries de comédia menores teriam que criar burburinho nos jornais e sites especializados, em premiações ou comprovar, através dos algoritmos, um aumento substancial no número de assinantes para sobreviver. Uma consequência direta dessa decisão é a promoção de duas novas séries de alto investimento, “Britannia” (produzida pela Sky Atlantic e exibida pela plataforma) e uma nova adaptação da série “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien. Ambas apelam ao perfil de público de “Game of Thrones” que, com o seu termino, deixa um extenso público carente.

 

A decisão estratégica da Amazon, ainda que tenha chocado os fãs das obras em questão, expõe não só um direcionamento mais incisivo da empresa, como uma nova fase do seu ciclo de vida. Ao começo, as plataformas de streaming, tendo como objetivo construir uma base, serviam de espaço seguro para artistas que queriam expor suas visões, oferecendo generosos contratos e pouca interferência artística. Com o passar do tempo e o acúmulo de produções originais, chega-se ao momento de reavaliar o conteúdo oferecido, definir o que de fato funciona e cancelar séries com pouco retorno. Foi o caso da bonita – e insossa – “The Last Tycoon”, primeira a ser cancelada, que reproduziu com luxo a Hollywood dos anos 30, mas falhou em entreter os assinantes.

 

I Love Dick

 

Ainda que enxugue a programação de nicho, dificilmente a plataforma a extinguirá, visto que a diversidade de conteúdo ajuda a atrair uma parcela de espectadores. Além disso, mantém a imagem da empresa como acolhedora a jovens criadores, algo que aumenta sua competitividade. Como a Netflix, que passou por processo semelhante no meio do ano passado, a Amazon enxugou sua programação original para melhor destinar seus recursos a obras que estão conquistando visibilidade (como “The Marvelous Mrs. Maisel”), além de , novas, que ofereçam conteúdo diferenciado.

 

Em meio ao processo de mudança, a empresa ainda deve lidar com uma imensa dor de cabeça, provocada por duas séries estão na corda bamba: a nova temporada da aclamada “Transparent”, de Jill Solloway, ainda não foi confirmada por conta das denúncias envolvendo o ator principal, Jeffrey Tambor; na mesma linha, ainda é incerto o quanto de investimento em propaganda a Amazon Prime Video irá dispor para “The Romanoffs”, sua maior aposta para o ano antes do criador, Matt Weiner, ser acusado por uma roteirista de insinuações sexuais indesejadas.

 

 

 

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