Quando os primeiros rumores sobre a compra da Fox pela Disney começaram a ser veiculados, muitos jornalistas especializados da imprensa americana indagaram sobre a condição da Paramount, empresa que vem decaindo em performance nas bilheterias. Até o momento, não passava de especulações, diminuídas com alguns resultados bons em 2018, como o sucesso acima do esperado de “Um Lugar Silencioso” e o último filme da saga “Missão Impossível” (distribuído por eles em território americano). Demissões anunciadas nesta semana, no entanto, reacendem a questão sobre a estabilidade da empresa, que faz parte da gigante de comunicações Viacom desde 1994.
Fundada em 1912 pelo imigrante húngaro Adolph Zukor, a empresa, inicialmente chamada Famous Players Film Company cresceu exponencialmente a partir de 1916, quando foi fundida com outras e se tornou a Famous Players-Lasky, que detinha a exclusividade de importantes astros do cinema mudo, como Gloria Swanson, Mary Pickford, Douglas Faribanks e Rudolph Valentino.
O seu poder na indústria do entretenimento era tanto que saiu vitoriosa da Grande Depressão como maior detentora de todos os segmentos do mercado cinematográfico: filmagem, distribuição e exibição, sendo dona de mais de 1.000 salas de cinema até os anos 40, quando esta prática foi proibida.
Sua queda de performance nas décadas seguintes foi superada quando, nos anos 70, lançou “O Bebê de Rosemary”, que abriu portas para outras produções da Nova Hollywood, como “Chinatown” e “O Poderoso Chefão”, e assim devolveu o protagonismo da empresa. Após este período, no entanto, passou a se sustentar com filmes de comédia e seriados de televisão, decaindo cada vez mais em participação de mercado até ser comprada nos anos 90.
Desde então, foi posta de lado pela Viacom, que se afastou do lucrativo mercado televisivo (que sustenta várias empresas do ramo), cortou laços com a Dreamworks por considerá-la irrelevante, vendeu o que detinha de direitos de exibição da Marvel Entertainment e, talvez a pior das decisões, demitiu Jason Blum após o sucesso do primeiro “Atividade Paranormal”. Hoje, em frente à sua empresa especializada em filmes de terror, Blumhouse, o produtor vê seu espaço no mercado crescer vertiginosamente.
Essa somatória de decisões equivocadas a levou a ficar em último lugar no ranking de arrecadação de bilheteria dos últimos sete anos, tendo perdido aproximadamente 900 milhões entre 2016 e 2018. Não obstante, ela não revela pretensões de adentrar o campo do streaming, ao contrário de outras grandes players, como Disney e Warner. Assim, deve ficar ainda mais para trás dos novos rumos do entretenimento. Neste contexto, uma das principais fontes de renda consiste no aluguel de sets para produções de outros estúdios, como as séries “Barry” (HBO) e “This Is Us” (NBC).
A empresa passa, no momento, por um processo de reestruturação que é claramente divulgado como uma tentativa de sobrevivência. Nesta semana, anunciou a demissão de 20 funcionários dos departamentos de televisão, jurídico e comercial. Como argumento, clamou o “ganho de eficiência, aumento de sinergia e contratação de talentos em áreas-chave”.
O CEO da Paramount, em entrevista ao New York Times, detalhou os planos de recuperação, que inclui uma parceria com a Netflix, dispondo seu conteúdo original para exibição na plataforma de streaming. Neste intuito, há também a tentativa de ressuscitar as produções televisivas.
Em 2018, ela produziu 9 seriados novos, incluindo “The Alienist” e “Jack “Ryan”, respectivamente distribuídas pela TNT e Amazon Prime. Contratou também Wyck Godfrey, produtor de sagas de sucesso como “Crepúsculo”. Até 2020, a empresa deseja subir a produção de longas-metragens de 13 para 20 ao ano, que inclui o lançamento, por exemplo, da sequência de “Top Gun”, sucesso dos anos 80.
Estas apostas, no entanto, parecem ser medidas ainda tímidas, distantes dos movimentos dos outros players da indústria, que avistam o streaming como fonte lucrativa de exibição do seu material, além de já estarem estabelecidas em outros campos que a Paramount ainda está correndo atrás. O tempo dirá se a empresa, que já foi chamada de “A Montanha” (alusão ao seu símbolo e o seu poderio no passado), vai conseguir retomar seu poder no mercado de entretenimento.
Fontes: The New York Times, Variety, Deadline