Por Luciana Ramos
Jakob Voelz (Sebastian Blomberg) é um padre que parece feliz com sua vocação. Divide o seu tempo trabalhando como orientador espiritual em uma penitenciária e socializando com os seus amigos de longa data, também padres, Dominik (Kai Shumann) e Oliver (Jan Messutat) Tudo muda quando um dia, durante uma missa, Dominik é preso, acusado de molestar um menor de idade.
A perplexidade diante do ocorrido, acrescidos da certeza da inocência e personalidade inquietante fazem Jakob decidir conduzir uma investigação por conta própria. Para isso, assedia a mãe do adolescente afim de entender suas motivações para a denúncia.
Diante da dubiedade dos fatos, passa a questionar a verdade proferida por Dominik e, consequentemente, sua própria fé e consciência. Assim, entra em uma espiral de desespero guiada pelo embate entre a dúvida cruel e o seu senso de moralidade.
O desespero o acomete e paralisa quando passa a desconfiar de outro caso similar, o que o leva a questionar severamente o posicionamento da Igreja sobre o caso, pondo em perigo a sua posição na Instituição.
A composição narrativa é bastante interessante e rica, expondo os diferentes pontos de vista através do embate ideológico dos amigos: Dominik permanece como figura dúbia, Jakob assume a posição inquisidora enquanto Oliver retrata os interesses da Igreja. Desse embate, surgem as argumentações e aos poucos o conflito é acentuado.
Jakob representa, nesse sentido, o senso de moralidade e justiça, atenuados pela persistente dúvida que o acompanha. Age, dessa forma, como os olhos do público, na medida em que os fatos são revelados em cena através das suas descobertas pessoais.
Por conta disso, o filme pauta-se bastante na atuação de Sebastian Blomberg, cujas expressões faciais guiam as emoções e entendimento do espectador. Ele desempenha esse papel com excelência, seu rosto um misto de confusão, perplexidade e desespero.
O teor do longa alemão é bastante crítico à Igreja, não pela suspeita do crime em si (cuja verdade só será revelada nos instantes finais) mas pela conduta da Instituição durante todo o processo. As sucessivas tentativas descritas no roteiro de abafamento do caso e relativização das acusações compõem um retrato cínico e cruel, muito diferente do pregado nas missas.
Infelizmente, o respaldo dessas argumentações vem da realidade, dada a vastidão de escândalos envolvendo abusos de menores cometidos por padres ao redor do mundo e suas consequentes tentativas de descrédito do teor dos crimes e relativização das penas. Essa realidade tem sido exposta e condenada amplamente pelo novo Papa, Francisco, numa tentativa de expurgar a prática da Instituição.
Por todos os motivos descritos acima, “O Culpado” é um ótimo filme, que expõe de forma gradual porém contundente a sua tese, simplificada na fala de um pároco à Jakob: “A Igreja é uma mãe e ninguém pode bater na sua mãe”. Uma excelente reflexão sobre fé, consciência e verdade.
Ano: 2015
Duração: 96 min
Nacionalidade: Alemanha
Gênero: drama
Elenco: Sebastian Blomberg, Kai Schumann, Jan Messutat
Diretor: Gerd Schneider
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