Por Luciana Ramos
Quando apresentado no Festival de Berlim deste ano, “7 Dias em Entebbe” foi criticado por parte da imprensa por conceder aos personagens principais, terroristas, conflitos existenciais: os alemães Brigitte (Rosamund Pike) e Böse (Daniel Brühl), em determinado momento da trama, questionam os limites aceitáveis de suas condutas em prol da causa que lutam. Em resposta, o diretor José Padilha lembrou a humanidade presente em cada ser humano, mesmo naqueles capazes de realizar atrocidades.
O seu olhar sobre a questão revela-se coerente com a sua filmografia, que privilegia a exploração de temas políticos e sociais através de um prisma multifacetado. No entanto, sua mais recente incursão cinematográfica não consegue reconstruir a tensão inerente a um conflito de proporções internacionais envolvendo a rivalidade histórica entre Israel e Palestina.
A trama retrata o ousado plano executado por membros da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP) em 1976: o sequestro de um avião da Air France, que voava de Tel Aviv a Paris com 248 passageiros. Após parada para abastecimento, o grupo alocou-se em um terminal em desuso de Entebbe, na Uganda, onde realizaram suas demandas. Tendo o apoio do ditador Idi Amin (Nonso Anozie) – que visitou pessoalmente os reféns em mais de uma ocasião – os terroristas tinham como objetivo a troca dos reféns judeus por cinquenta prisioneiros palestinos.
Em uma guinada dramática, Brigitte e Böse, pontos centrais da trama, veem seu protagonismo perdido para outros membros do FPLP. Estes, por sua vez, escalam o tom de tensão ao libertarem os passageiros não-judeus e confinarem os demais em uma sala escura onde são constantemente ameaçados, iniciativa que faz os alemães se sentirem extremamente desconfortáveis, dada a aproximação indesejada com práticas nazistas. A decorrente preocupação da percepção mundial acerca de suas ações faz os dois reavaliarem suas escolhas, criando um confronto ideológico que põe em risco a operação.
Paralelamente, a narrativa acompanha o desenrolar das negociações entre autoridades israelenses sobre as possíveis medidas para o caso: o ministro da defesa Shimon Peres (Eddie Marsan) advoga pela retomada dos reféns de forma bélica, mas essa hipótese é repetidamente rechaçada pelo Primeiro-Ministro Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi), ao mesmo tempo preocupado com a sua imagem e possíveis desdobramentos de um embate militar.
Esse panorama, instigante pela complexidade, é sufocado pelo roteiro engessado de Gregory Burke, que relega o tratamento das questões aos diálogos, como fica evidente a passagem em que a personagem de Rosamund Pike desabafa ao telefone, para então descobrir que ele estava quebrado. A reiteração do confronto verbal retira a força visual que o longa requer e, assim, “7 Dias em Entebbe” torna-se um filme à espera do seu terceiro ato, quando a ação consolida-se.
Neste momento, as inúmeras sequências de ensaio coreográfico dão vazão a uma dança metafórica, que é contraposta à operação militar. Embora ausente de conexão dramática, esta escolha revela a pretensão de conceder ao filme, essencialmente hollywoodiano, uma conotação artística, reforçada pela trilha impactante de Rodrigo Amarante.
O trabalho coreográfico de Ohad Naharin é belíssimo mas, no todo, parece deslocado. Essa sensação estende-se a fotografia amarelada de Lula Carvalho e a edição competente de Daniel Rezende. Quando unidos, esses elementos sucumbem ao marasmo narrativo, incapaz de traduzir a tensão de um momento-chave da geopolítica recente. Sem cumprir o seu objetivo central, “7 Dias em Entebbe” sucumbe à mediocridade.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 107 min
Gênero: crime, drama, suspense
Direção: José Padilha
Elenco: Rosamund Pike, Daniel Brühl, Eddie Marsan
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