Por Melissa Vassali
Há vinte e cinco anos foi lançado “A Lista de Schindler”, filme dirigido por Steven Spielberg que conta a história de um industrial alemão que, após conhecer a realidade dos campos de concentração, decidiu usar seu dinheiro e sua influência para libertar mais de 1000 judeus.
Campeão em sete categorias no Oscar de 1994 – melhor direção de arte, fotografia, montagem, trilha sonora original, roteiro adaptado, diretor e filme – foi indicado ainda para outras cinco – melhor ator (Liam Neeson), melhor ator coadjuvante (Ralph Fiennes), som, maquiagem e figurino.
Mas se o reconhecimento às qualidades da obra foi imediato, as críticas também vieram. O filme trazia a problemática de retratar o Holocausto sob a perspectiva de um alemão filiado ao Partido Nazista. Ainda que o empresário não demonstrasse ódio puro aos judeus, agia de forma indiferente ao seu sofrimento, vendo na guerra uma oportunidade de obter lucros, utilizando até mesmo mão de obra escrava.
É importante lembrar, porém, que o desejo de contar essa história veio de Poldek Pfefferberg, um dos “judeus de Schindler”. O sobrevivente batalhou por anos para encontrar alguém disposto a escrever sobre seu salvador, tarefa que coube a Thomas Keneally, com a publicação de “A Arca de Schindler”, em 1982. Depois disso, foram mais de dez anos para convencer Spielberg a adaptar o livro para o cinema. O diretor chegou a encaminhar o projeto para Roman Polanski e Martin Scorsese, mas por fim ele mesmo assumiu sua realização, como forma de se conectar à suas raízes judaicas. Hoje, o longa-metragem está entre os 10 melhores filmes americanos de todos os tempos, segundo o American Film Institute.
Spielberg não escondeu na tela a dualidade de Schindler (Liam Neeson), que a princípio se preocupava com o bem-estar dos judeus apenas porque não queria ter prejuízos na linha de produção. A iniciativa de protegê-los parte de seu contador, Itzhak Stern (Ben Kingsley), que falsificava documentos para que pessoas consideradas improdutivas, como músicos, idosos e amputados, pudessem ser contratados.
Tudo muda quando ele presencia o ataque ao gueto de Cracóvia e a violência arbitrária dos campos e decide abrir mão de sua fortuna para subornar o tenente Amon Goeth (Ralph Fiennes) e, assim, poupar os judeus do extermínio. Ele estava literalmente comprando cada vida que salvaria.
O filme traz marcas características de Spielberg, como sua humanidade e afetuosidade, que transparecem mesmo numa obra de temática tão séria. O conflito entre o bem o mal também tem uma importância narrativa, determinando a jornada de redenção do protagonista.
A premiada fotografia em preto e branco lembra diversos filmes do pós-guerra, como o documentário “Noite e Neblina” (Alain Resnais, 1956) e o cinema neorrealista italiano – ainda que haja no estilo de Spielberg uma dramatização que não caberia nos filmes neorrealistas. A obra possui longos momentos de silêncio, rompidos por sons de tiros. O olhar em pânico e a imobilidade dos judeus descobertos em seus esconderijos são mais expressivos do que qualquer grito de desespero.
As cenas são cheias de melancolia e gravidade, reforçadas pela trilha de John Williams e pelo horror detalhado: as cinzas dos corpos queimados que se espalham pela cidade, os bens desapropriados, o último gesto de piedade dos médicos antes da chegada dos nazistas. Há também o fato de que vários atores e figurantes estiveram em campos de concentração e reviveram seus traumas durante as gravações, acentuando a carga emocional do filme.
“Esta lista… é um bem absoluto. A lista é vida. Tudo ao redor de suas margens é um precipício”, diz Stern a Schindler quando terminam de redigir a pauta com os nomes que seriam salvos. Mais de seis milhões de judeus morreram durante o Holocausto. Nunca conseguiremos falar sobre todos, mas talvez possamos, através de algumas histórias, trazer o mínimo de justiça para a memória dos demais – na que Spielberg escolheu contar, a esperança venceu o ódio e o medo. Que a realidade possa nos oferecer mais histórias assim, e menos dor e sofrimento para serem relembrados.
Ficha Técnica
Ano: 1993
Duração: 185 min
Gênero: drama
Diretor: Steven Spielberg
Elenco: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes, Caroline Goodall, Jonathan Sagall, Embeth Davidtz
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