Em carta aberta publicada no jornal Le Monde, cem mulheres francesas, incluindo escritoras, artistas e acadêmicas, repudiaram o movimento #metoo e seu equivalente francês, #balancetonporc (nomeie seu porco, em tradução livre).
Para elas, após o escândalo envolvendo um dos maiores produtores de Hollywood, Harvey Weinstein, uma “caça às bruxas” instalou-se no mundo do entretenimento e, como consequência, homens estão sendo injustamente punidos e afastados do trabalho.
A argumentação é a oportunidade de mulheres virem à tona com casos de assédio e estupro se perdeu diante de histórias que, para elas, não passam de jogo da sedução. Citando um trecho, “estupro é um crime, mas tentar seduzir alguém, mesmo de forma persistente ou aberta, não é – nem o fato do homem se mostrar cavalheiro se configura em um ataque de macho”. Em outro momento, alega-se que homens foram punidos sumariamente quando tudo que fizeram foi tocar os joelhos de alguém ou tentar roubar um beijo”.
Cabe lembrar que as acusações feitas até o momento nem de longe estão no patamar da “mão no joelho”. No caso de Weinstein e Kevin Spacey, alegações de estupro foram feitas; ainda falando do produtor, há tentativas de forçar sexo oral e uso do maquinário hollywoodiano para calar as vítimas, como foi o caso das atrizes Ashley Judd e Mira Sorvino, que perderam oportunidades de emprego. No caso do comediante Louis C.K., houve a masturbação indesejada na frente de mulheres com que trabalhava. No caso do produtor Brett Ratner, houve a tentativa de forçar o ato sexual e a consequente humilhação pública das que se opuseram.
Entre as signatárias da carta, estão a autora Catherine Millet e a atriz Catherine Deneuve, que já havia se pronunciado nas redes sociais de forma contrária aos movimentos de encorajamento para as vítimas de assedio se pronunciarem. Segundo ela, o método para mudar a situação é excessivo, ao qual completou: “o que vem depois de “#nomeieseuporco”, nomeie sua vadia?”.
Ainda segundo a carta, movimentos feministas como esse põe em risco a liberdade sexual, pondo em prática um puritanismo avassalador. Diante disso, deixamos a reiteração da diferença entre os conceitos de liberdade sexual e de abuso do poder em forma de assédio e estupro, que traumatizam as vítimas e as silenciam sistematicamente, algo posto à prova diante de movimentos como #metoo e Time’s Up.