Por Bruno Tavares
O imaginário popular é repleto de ícones assustadores: monstros, seres que comandam forças desconhecidas, castelos com torres pontiagudas no alto de montanhas, longas escadas com teias de aranha, uivos de lobos durante a lua cheia, noites com neblina… Isso apenas para citar alguns. Em grande parte, estes signos geralmente associados com o terror foram originados em um mesmo lugar: o primeiro filme do Conde Drácula.
Produzido pela Universal Pictures em 1931, o título deu o pontapé inicial para as produções de horror. Carl Laemmle, criador do estúdio, não gostava do gênero. Porém, em 1929, o comando passou para seu filho, Carl Laemmle Jr, que imediatamente deu o start nos longas assustadores. O primeiro deles foi justamente a adaptação do livro “Drácula”, do escritor Bram Stoker. Dois anos antes do lançamento da película, uma peça da Broadway estreara com a mesma temática. Por ser apenas baseada nos fatos da obra, a apresentação achou uma brecha para não pagar direitos autorias à família Stoker. Seguindo a mesma toada, a obra cinematográfica se inspirou na peça, com pequenas diferenças no roteiro, e assim também burlou as regras.
A responsabilidade para dirigir a nova aposta do estúdio recaiu sobre Tod Browning, que levava no currículo produções como “Vampiros da Meia Noite” e “O Monstro do Circo”. Já a fotografia ficou a cargo de Karl Freund, um talento nato que já havia trabalhado com Fritz Lang em “Metrópolis”. Ele é o responsável por alguns dos melhores momentos do filme, visto que os elegantes movimentos de câmera e a iluminação no nefasto personagem são ideias suas. Para calibrar o buzz ao redor de sua criação, a Universal investiu pesado na campanha de marketing ao simular pessoas desmaiando de horror em algumas sessões. Por conta destes fatores, a produção foi um sucesso nas bilheterias.
Com um roteiro simples, “Drácula” conta uma história que os espectadores do século XXI reconhecerão rapidamente, mas que foi muito original em sua época. Tudo começa quando o burocrata Renfield (Dwight Frye) faz uma viagem turbulenta pelos Cárpatos, cadeia de montanhas de Europa Oriental, levando papéis para um certo Conde Drácula (Bela Lugosi). Estes documentos atestam a compra de uma casa e incluem os termos da mudança do aristocrata para o Reino Unido. Ao entrar no castelo, o pobre Renfield é hipnotizado e se torna um lacaio do vampiro, servindo de alimento para o conde durante o trajeto de volta a Londres. Chegando na metrópole, Drácula transforma sua vizinha, a jovem Lucy Weston (Frances Dade), em vampira. Em seguida, volta seu magnetismo para a bela Mina Seward (Helen Chandler). O pai da garota, Dr. Seward (Herbert Bunston), preocupado com o comportamento estranho da filha, chama seu amigo Van Helsing (Edward Van Sloan) para conceder uma opinião técnica. Ao constatar que a garota está sob a influência de um vampiro, o esotérico se junta a ao pai da garota e seu namorado, Jon Harker (David Manners), para combater as forças maléficas do chupador de sangue.
Precursor de tantos elementos fantásticos, o filme ganha mais méritos por ter lançado ao estrelato o ator Bela Lugosi. Dono de um carregado sotaque húngaro e um olhar penetrante, ele ficou conhecido como a personificação do mal. Sua atuação definiu como o monstro de Stoker seria reproduzido até hoje: as pausas entre as entonações, os maneirismos gestuais e o ar elegante são emblemáticos. Some-se a isso a dualidade do personagem que seduz e ao mesmo tempo espanta, e o resultado é um verdadeiro ícone. Todas essas características foram ditadas por ele e ecoam nas inúmeras revisitas à trama do conde da Transilvânia. Vale destacar que a escolha do astro foi um golpe do destino. O papel já estava designado para Lon Chaney, conhecido por ter experiência em filmes de terror, que morreu subitamente e, assim, a chance passou para Bela, que a agarrou com os caninos.
O gênero de horror deve muito a esta produção. O castelo do conde é a casa onde habitam todos os males. Dali surgiram as inúmeras associações que fazemos sobre o que é assustador. Animais que rastejam, caixões, contrastes entre luz e sombras, além de outros elementos citados anteriormente, são elementos utilizados nos últimos 90 anos para colocar o público de cabelo em pé. A produção também é responsável por enraizar outros conceitos básicos do cânone vampiresco: é desse filme que nascem as crenças de que tais seres evitam a luz do sol, possuem a habilidade de se transformar em morcegos ou lobos, não se refletem no espelho, são repelidos por alho ou crucifixos e, mais importante, só podem ser mortos com uma estaca de madeira no coração.
Contudo, nem só de elogios vive o longa. Produzido no início da década de 1930, o filme não envelheceu bem e nos apresenta uma trama rasa, com um final apressado e um pouco decepcionante. Além de Lugosi, as demais atuações são apenas passáveis e, infelizmente, os recursos do terror não assustam mais o público de hoje. Mesmo assim, “Drácula” merece seu papel no panteão dos clássicos não só por transformar a Universal Pictures no estúdio dos monstros de Hollywood, como por popularizar o mito do vampiro.
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Ficha Técnica:
Ano: 1931
Duração: 75 min
Gênero: Terror / Fantasia
Diretor: Tod Browning
Atores: Bela Lugosi, Helen Chandler, Edward Van Sloan, David Manners, Dwight Frye, Herbert Bunston e Frances Dade.
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