Por Luciana Ramos
Jennifer Garner tornou-se conhecida ao encarnar Sydney Bristow por cinco temporadas em “Alias”, série que explorava suas habilidades de luta corporal, estabelecendo a atriz como uma preciosa fonte para esse tipo de narrativa – até desbocar no malfadado “Elektra”. Nos anos posteriores, ela resolveu descolar-se dessa imagem, apostando em filmes mais leves – muitos familiares – onde mostrava-se como a figura acolhedora. Após um tempo afastada das telonas, ela ensaia uma volta impactante com “A Justiceira”, que une os dois lados de sua persona em um só personagem. Porém, o material é tão ruim que ultrapassa a barreira do dispensável, alcançando o status de risível.
A trama acompanha a jornada de Riley North, uma mulher dedicada à família que presencia a morte de seu marido (Jeff Hephner) e filha (Cailey Fleming) no dia no aniversário desta. O crime foi encomendado por Diego Garcia (Juan Pablo Raba), chefe de um cartel de drogas – que seu marido ia roubar, mas desistiu, constituindo o primeiro ponto absurdo da trama. Em recuperação no hospital, ela é avisada pelo policial Stanley Carmichael (John Gallagher Jr.) que os criminosos têm pessoas infiltradas em diversos níveis do sistema judicial; ela o ignora, mas logo percebe que a justiça convencional não será feita. Por isso, some durante cinco anos, retornando como uma máquina de morte disposta a vingar os assassinatos daqueles que mais amava.
Sendo este um plot “batido”, seria esperada a inclusão do seu processo de amadurecimento corporal e preparo psicológico, a transição de uma mulher ingênua e inocente em uma alma amargurada, ansiosa pelo sangue de seus inimigos. A opção por deixar essa parte da história fora das telas é sentida, visto que a contextualização poderia fortificar o elo emocional com os espectadores.
Raso do início ao fim, o roteiro é uma mistura de clichês com absurdos, como a impossibilidade deflagrada da sua primeira execução. O cartel mexicano é descrito no filme por uma série de estereótipos ridículos, incluindo o fato de a grande maioria dos criminosos dispor de grandes tatuagens no rosto – o que, convenhamos, torna a identificação dessas pessoas muito mais fácil.
As tentativas de criar mais tensão são igualmente inócuas, pontuadas em passagens como a que um advogado de terno visita Riley para tentar suborná-la. Logo em seguida, são apresentados medicamentos antipsicóticos que foram prescritos para a protagonista (inseridos para questionar sua sanidade) mas, ao jurar nunca os ter tomados, Riley escancara a fragilidade de uma trama excessivamente preocupada em utilizar todas as muletas narrativas à disposição. Nisso, ainda se incluem um plot twist sem sentido e um clímax inconsistente, por contradizer todo o caminho trilhado pela protagonista até então. Não obstante, tem-se a inserção de “visões” da filha, recurso melodramático que visa humanizar Riley, mas é totalmente dispensável.
Um dos pontos mais preocupantes é a sua construção como anti-heroína, tanto na sua aclamação nas redes sociais quanto na pintura de um grafite em sua homenagem. O seu papel enquanto pacificadora do bairro onde mora tenta ser descrito nas visões de duas crianças que são suas fãs, mas nunca é abordado com profundidade; o máximo que se obtém é um diálogo altamente explicativo proferido pela agente do FBI Lisa Inman (Annie Ilonzeh).
A superficialidade da narrativa causa bastante frustração, mas poderia ser pelo menos amenizada caso a direção fosse bem-feita. Não é o caso. O diretor Pierre Morel opta pelo uso da falta de foco como símbolo da perturbação mental de Riley (mais um recurso pouco imaginativo), relegando as sequências de batalha a uma sucessão de enquadramentos formais que não elevam o material.
Por fim, nota-se outro problema essencial na produção: a inexpressividade de Jennifer Garner. Seu papel, um misto de luto e ódio sanguinário, traz oportunidades para ela trabalhar com diferentes nuances. Porém, o material acaba exacerbando as suas limitações enquanto atriz, que passa o filme inteiro com a mesma expressão petrificada.
“A Justiceira” é um acúmulo de erros narrativos e técnicos do começo ao fim, a exemplificação de que a aposta em clichês melodramáticos, sem o devido embasamento em uma história sólida, de nada adianta. A tentativa de engajar o público falha miseravelmente e o longa se aproxima do indesejável rol de produções que são tão mal feitas que se tornam cômicas.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 101 min
Gênero: ação, drama, suspense
Direção: Pierre Morel
Elenco: Jennifer Garner, Joh Gallagher Jr, Juan Pablo Raba
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