Por Luciana Ramos

 

Florence Green (Emily Mortimer) é uma jovem viúva que deseja um novo rumo para sua vida e, por isso, decide abrir uma livraria na pequena cidade onde vive, nos arredores de Londres. O lugar escolhido para o empreendimento é Old House, antiga casa abandonada. Logo nos primeiros momentos, ela é abordada pelo gerente do banco para o fato de que este não é um bom investimento, dada a excessiva umidade e outros problemas técnicos.

No entanto, ela logo descobre que seu plano contrapõe as ambições da socialite Violet Gamart (Patricia Clarkson), que deseja usar o local para construção de um centro de arte. As abordagens insistentes e disseminadas de outros moradores – de diversas camadas sociais – para que ela abandone seu negócio mostram a servidão geral movida pelo dinheiro e influência. Recuada, Florence continua a apostar na atração das aventuras que os livros podem proporcionar e se refugia no conforto das amizades da jovem Christine (Honor Kneafsey), que a ajuda a tocar o local, e do ermitão Edmund Brundish (Bill Nighy), que se mostra um ávido leitor.

 

 

A interação entre os dois é gradual e baseada nas discussões sobre os méritos das obras, de “Farenheit 451” a “Lolita”, pontuadas pelo formalismo com que ele conduz os diálogos (escritos e presenciais) e certo desconforto característico da falta de intimidade, aos poucos perdido. Tais interações mostram-se valiosas por inserirem diretamente na trama o caráter transformador da literatura, sua capacidade de confortar, transgredir e abrir novas portas de conhecimento.

A promessa de aprofundamento dessa discussão é feita exatamente quando Florence entra em contato com a obra de Vladimir Nabokov, recém-lançada e que tem causado alvoroço por onde passa. Diante dos obstáculos práticos que se acumulam a todo momento, este parece ser o ponto decisivo de inflexão da trama, decidindo o destino da personagem principal. Sua opção em conceder amplo destaque a “Lolita”, no entanto, só se reflete na curiosidade dos transeuntes, que enchem suas calçadas, mas não configura nem o seu sucesso nem o repúdio coletivo ao seu empreendimento, configurando-se uma oportunidade narrativa perdida.A construção insistente do roteiro em apresentar pontos de oposição à Old House Bookshop, como a proibição de Christine de trabalhar e a criação de uma nova lei que regula o uso de locais antigos, parece, de início, repetitiva, por não avançar na questão de maneira enfática.

 

 

Nesse ponto, parece que “A Livraria” tem pouco a oferecer além da jornada solitária de uma mulher em conduzir o seu sonho. Porém, a quebra de expectativas ao final concede maior profundidade à trama, revelando o seu valor. Por um lado, essa intensa oposição revela-se estarrecedora exatamente por não ter a substância lógica requerida; sem um objetivo maior do que agradar uma socialite caprichosa, mostra toda a mesquinhez humana, movida pela ânsia em ganhar recompensas (ou meramente ser bem quisto) por submeter-se a vontades alheias. Esse momento-chave é pontuado pela sucessão de closes dessas figuras, uso mais inspirado de Isabel Coixet no filme que, em geral, segue o padrão estético formal.

Por outro lado, a última cena reforça o argumento do poder persuasivo da literatura, no impacto que uma só obra pode ter na formação de alguém e no prazer proporcionado por esta atividade. Através dessas duas mensagens, contrastantes e complementares, “A Livraria” atinge outro patamar de apreciação, mostrando-se mais uma boa história cinematográfica sobre o poder dos livros, capaz de deixar a sua mensagem fluir com o espectador após o término da sessão.

 

Pôster

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 113 min

Gênero: drama

Diretora: Isabel Coixet

Elenco: Emily Mortimer, Bill Nighy, Patricia Clarkson

 

Trailer:

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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