Por Murillo Trevisan

Por muito tempo Hollywood apostou em remakes, sequências e franquias, com o entendimento de que o que é familiar ao espectador também é uma garantia maior nas bilheterias. Até que surgiu uma monstruosa franquia – envolvendo super-heróis – e deu origem à uma nova categoria em apelo de convocação ao público; os universos compartilhados.

Eis que chega aos cinemas, para empurrar goela abaixo dos fãs do gênero, uma nova história dentro do Conjuringverse – universo cinematográfico que contém as franquias de “Invocação do Mal”, “Annabelle” e o recente longa “A Freira”. “A Maldição da Chorona”, apesar de buscar apresentar uma nova narrativa com uma fábula ainda não explorada, faz uso exagerado da receita dos sucessos anteriores se prendendo apenas à fórmula.

Ambientado em Los Angeles no início dos anos 70, o filme conta a história de Anna Tate-Garcia (Linda Cardellini), uma assistente social e mãe solteira que tenta equilibrar seus dois papéis, ao mesmo tempo em que tem que lidar com a perda de seu marido. Quando ela é chamada à casa de Patricia Alvarez (Patricia Velasquez) para investigar maus-tratos de crianças, Anna encontra os filhos dela trancados no armários, que segundo ela, tentava os proteger de um espírito maligno: a Chorona.

Cética de qualquer crença, Anna não faz ideia do que acaba de libertar, quando resolve internar a mãe das crianças e tirá-las de sua guarda para protegê-los. Ao anoitecer, um choro assombra os meninos no abrigo onde estão dormindo os levando em direção à morte. Quando seus corpos são encontrados, Patricia coloca a culpa em Anna e a amaldiçoa prometendo que os filhos dela serão os próximos a serem levados pela Chorona.

Seguindo os passos de “Invocação do Mal” em trazer elementos sobrenaturais verídicos os adaptando-os para a ficção, o filme transforma um conceituado folclore mexicano em um terror completamente formulaico e desprovido de criatividade.

O diretor estreante em longas-metragem Michael Chaves copia e cola os principais pontos do seu aclamado curta “The Maiden” (2016) – o qual lhe rendeu a confiança do produtor James Wan (“Aquaman”) em lhe passar o comando do vindouro “Invocação do Mal 3” (2020). Antes fossem apenas autorreferências, mas a falta de experiência e angústia por agradar logo na primeira vez o faz apelar para “todos os clichês do terror”. Aos experientes no gênero, sobra aos montes a sensação de déjà vu e previsibilidade no desfecho de cada cena.

Ao elenco cabe o exercício de ligações emocionais e/ou de conexões ao “Conjuringverse” – como é o caso de Tony Amendola (“A Máscara do Zorro”) que reprisa o papel como o Padre Perez, apresentado em “Annabelle” em 2014, aqui relembrado de maneira forçada e expositiva, fazendo uso até da imagem da boneca por meio de flashbacks. Raymond Cruz (conhecido como Tuco Salamanca de “Breaking Bad” e “Better Call Saul”) interpreta Rafael Olvera, um ex-padre e agora curandeiro que como um bom alívio cômico arranca algumas risadas com seus humor sarcástico. Linda Cardellini (“Green Book: O Guia”), assim como as crianças Samantha (Jaynee-Lynne Kinchen) e Chris (Roman Christou), que deveriam nos seduzir com um suposto amedrontamento, vivenciam seus papéis no automático desprovidos de carisma.

Sem tópicos atrativos, “A Maldição da Chorona” é mais um a entrar na lista dos genéricos esquecíveis, caça-níqueis que servem apenas como temas das pegadinhas do Silvio Santos. Os admiráveis trabalhos de James Wan em “Invocação do Mal” 1 e 2, que deveriam servir de regras, agora são meras exceções nesse “Invocaverso”.

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 93 min

Gênero: Terror, Mistério

Diretor: Michael Chaves

Elenco: Linda Cardellini, Raymond Cruz, Patricia Velasquez, Marisol Ramirez, Sean Patrick Thomas

Trailer:

Imagens:

Avaliação do Filme

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