Por Paulo Lannes

 

Seguindo o revisionismo promovido pelo cinema de grandes personalidades do século XX, era de se esperar que “A morte de Stalin” trouxesse um olhar sóbrio, apurado e cheio de revelações do poderoso e sanguinário líder da União Soviética. Porém, o que o cineasta holandês Armando Iannucci serve aos observadores é uma narrativa completamente diferente, repleta de humor ácido. E funciona muito bem.

Historicamente, a morte de Stalin em 1953 deixou o mundo tenso. Duas perguntas rondavam no ar: quem daria conta de um império como aquele, que era composto não só do maior país do mundo (em extensão territorial) como também de boa parte das nações do leste europeu? E, principalmente, o novo líder manteria os expurgos e os assassinatos tão recorrentes no governo stalinista?

 

 

O filme tenta responder isso, mas não pelas vias do documentário (com registros e depoimentos), mas sim com uma sátira cáustica que faz o espectador rir em situações erradas. O ensejo da obra, inspirada numa HQ homônima de Fabien Nury e Thierry Robin, é mostrar que a situação na União Soviética era tão absurda que não haveria outra forma de contá-la senão pelo humor negro. E por que isso?

Porque os personagens eram realmente irreais. A começar pelo próprio ditador, que pode ter morrido por conta de suas ações. Ele teve uma parada cardíaca e caiu no chão, mas ninguém foi verificar se estava tudo bem por medo de entrar na sua sala sem ele pedir antes. Além disso, ele havia exilado (ou matado) os melhores médicos de Moscou. Uma dose de sarcasmo é ou não é bem-vinda?

Daí temos os homens que compunham o primeiro escalão de Joseph Stalin (Adrian McLoughlin): o responsável pelas listas de expurgo e assassinatos Lavrentiy Beria (Simon Russell Beale), o medroso vice do Stalin Geórgiy Malenkov (Jeffrey Tambor), o responsável pelo genocídio ucraniano Viatcheslav Molotov (Michael Palin) e o sedento pelo poder Nikita Khrushchov (Steve Buscemi), que tentou promover uma reforma na União Soviética até ser deposto. Todos desesperados para saber o que fazer em um cenário em que qualquer erro poderia significar a vida ou a morte deles mesmos.

 

 

O ponto forte do filme fica pelo fato de fazer uma caricatura dos grandes nomes soviéticos do período sem pecar pelo excesso de violências e por piadas fáceis contra comunistas, criando um painel trágico-cômico das brigas palacianas que ocorreram no período sem o interesse de estar totalmente de acordo com os fatos.

Aqui, vale mais o espectador saber como os sentimentos dos personagens afloraram em uma época tão sensível do que compreender a importância de cada um deles, apresentando seus méritos e seus horrores, e do que conhecer a fundo o truncado sistema soviético, que, de fato, não imaginava continuar a existir naqueles moldes sem um Stalin por perto. Sobriedade demais para retratar um momento desses? Não, por favor.

 

Pôster:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica:

Ano: 2018

Duração: 108 min

Gênero: comédia

Direção: Armando Iannucci

Elenco: Simon Russell Beale, Jeffrey Tambor, Michael Palin, Steve Buscemi, Adrian McLoughlin

 

Trailer:

 

 

Imagens:

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