por Lanna Marcondes
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre os dia 12 e 22 de abril, acontece a 23ª edição do Festival Internacional de documentários “É Tudo Verdade”. O filme de estreia em São Paulo não poderia ser melhor: o retrato de um dos maiores cantores e compositores da história da música brasileira.
No filme de Pedro Serrano, temos a oportunidade nostálgica de conhecer melhor as diversas camadas de um homem que se tornou o maior marco do samba paulista. Com um material biográfico construído a partir de imagens de acervos pessoais e de caráter jornalístico, além de depoimentos de familiares e amigos, acompanhamos a jornada de João Rubinato até se tornar o grande Adoniran Barbosa.
O longa começa de forma forte, retratando a morte do músico, um evento televisionado pelos jornais e com a presença de diversos amigos artistas que cantavam em sua homenagem. Seu legado é honrado ali. É a partir do seu fim que começamos a conhecer todo o caminho percorrido por um artista que jamais limitou sua arte.
Adoniran nem sempre adotou esse nome, ele mesmo afirmava em entrevista: “meu nome é João Rubinato”. Filho de imigrantes italianos, nasceu e cresceu em São Paulo. Cidade que tanto amou e representou em suas músicas, que é sua principal companheira de vida e também da narrativa desse documentário. O diretor escolhe contar a vida de uma lenda a partir das ruas em que ele viveu, criando um paradoxo entre imagens filmadas na época do sambista e outras, atuais, apontando com a câmera as semelhanças e diferenças entre duas versões do mesmo lugar.
O humor astuto e impecável de Adoniran nunca deixa a desejar. É impossível não se relacionar e rir de suas piadas, histórias inventadas e carisma natural. Mesmo em momentos de dor, de reconhecimento da tragédia da própria cidade que tanto amava, ele ri e consegue extrair beleza. Ele percorreu muitos caminhos até encontrar-se no samba. Na adolescência, foi entregador de marmitas e relembrava em depoimentos bem-humorados que comia parte das entregas. Trabalhou por anos como humorista na Rádio Record, onde conheceu seus maiores e melhores amigos. Buscou os palcos, a televisão. Já atuou em diversos filmes. Consideravam sua voz “horrível”. Começou como compositor, encontrando inspiração em sua própria vida. “Onde não há encrenca, não há samba”, dizia ele.
Uma jornada árdua criou um artista de mil faces, onde uísque e cigarros eram parte de sua personalidade, e cada momento de felicidade ou tristeza foram traduzidos em músicas que marcaram a vida de milhões de pessoas, não só no Brasil, mas pelo mundo. O processo de criação de seus maiores sucessos, como “Trem das Onze” e “Saudosa Maloca”, são retratados no documentário, por onde observamos a profundidade de seu trabalho.
“Adoniran: Meu Nome é João Rubinato” mostra como a vida de um dos grandes artistas brasileiros foi repleto de falhas e frustrações, mas que com humor e amor ele conseguia cativar milhões. Além da obervação da humanidade de um ícone de tanto talento, a obra proporciona uma experiência de compreensão da própria história da cultura musical do país.
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Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 92 min.
Gênero: documentário, biografia
Direção: Pedro Serrano
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