Por Murillo Trevisan

“Uma vez alguém me disse que o tempo não existe, o que existe são momentos”. A frase recitada por Norah (Kristen Stewart) em meio à um monólogo inicial, representa bem o sentido de urgência e objetividade da obra. Realmente não importa quem são aquelas pessoas colocadas juntas num cenário pavoroso, e sim o que acontece com elas naquele momento dos 95 minutos corridos.

Apenas para situar, Norah é uma engenheira mecânica que, assim como sua equipe, vive numa estação de perfuração submersa a mais de dez quilômetros de profundidade. Após poucos minutos de calmaria e reflexão, onde ela encontra-se frente ao espelho enquanto filosofa em voice over sobre como é viver nas profundezas do oceano, a estação cede a pressão da água e é destruída, mudando completamente o compasso do filme. Agora eles tem que escapar para um local seguro e buscar uma maneira de voltar à superfície.

O modo como a situação é ambientada é realmente assustadora. A percepção de profundidade é tão bem elaborada pela fotografia e departamento de arte que a sensação do espectador é puramente aflitiva e claustrofóbica.

A freneticidade é ratificada pela explosiva trilha sonora de Marco Beltrami (“Guerra Mundial Z”) e Brandon Roberts (“Um Lugar Silencioso”). A concomitância é tamanha, que seria possível assistir ao filme de olhos fechados e mesmo assim compreenderia a essência dele. Se por um lado eles parecem em sintonia, por outro cria um revés, o deixando totalmente dependente dessa identidade sonora. Algumas cenas não tem o mínimo sentido, sem o jump scare, por exemplo.

Conforme citado anteriormente, não há tempo para desenvolver os personagens e criar o mínimo de empatia por eles. O roteiro de Brian Duffield (A babá) e Adam Cozad (A Lenda de Tarzan) ainda tenta empurrar uma conexão inserindo objetos de apego sentimental – como é o caso de Lilly Paul, um coelinho de pelúcia que cria um elo entre a equipe. Porém soa forçado e repetitivo. Piadas sem graça e sem sentido naquele ambiente são metralhadas pela boca de T.J. Miller (Deadpool), que prova o quanto esse filme foi lançado fora de seu tempo.

Por outro lado, Kristen Stewart se destaca novamente, sendo praticamente a mais acertada escolha do longa. Com seus cabelos dourados de corte curto que contrastam com as cores frias da tela, a atriz dá a Norah uma ansiedade incontestável; ela é tão aterrorizada quanto qualquer um de nós estaria naquela profundidade, e essa vulnerabilidade permite que “Ameaça Profunda” seja assustador mesmo com os caminhos tolos e absurdos escolhidos pelo roteiro.

Ficha Técnica

Ano: 2020

Duração: 95 min

Gênero: Ação, Drama, Horror

Diretor: William EubankElenco: Kristen Stewart, T.J. Miller, Jessica Henwick, Vincent Cassel, John Gallagher Jr.

Avaliação do Filme

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