Por Murillo Trevisan
Basear filmes em jogos de vídeo game não é uma prática nova e geralmente é bem arriscada. Mesmo que a obra original possua um roteiro com narrativa cinematográfica, tirar a sensação do jogador de estar no controle, passando para a perspectiva de apenas espectador, pode mudar completamente a experiência. Raras são as exceções onde há sucesso, sendo de crítica ou público, quando normalmente não são relacionadas.
O desafio é ainda maior quando o game a ser adaptado é um jogo para celular, onde o objetivo é arremessar pássaros através de um estilingue em cima de porcos, de um canto da tela ao outro, onde não há um mínimo roteiro desenvolvido. Sem desmerecer o excelente jogo da Rovio, que além de ter criado um divertido entretenimento, incutiu uma carga educativa trabalhando matemática e física, além de a coordenação motora das crianças.
Essa transposição de mídia pode ter uma ajudinha quando seus já conhecidos personagens ganham um perfil com imenso carisma, como é o caso de “Angry Birds – O Filme”. Nele, Red (voz de Jason Sudeikis) é um pássaro que tem problemas para controlar sua raiva e vive numa vila onde todos são irritantemente felizes e alegres. Devido a uma briga com um pai de família em uma festa de aniversário, ele é julgado e condenado a pena máxima: terapia para tratamento contra raiva. Nesta clínica, o pássaro raivoso conhece seus futuros parceiros de aventura Bomba (Danny McBride), Chuck (Josh Gad), Terêncio (Sean Penn) e a instrutora Matilda (Maya Rudolph).
Assim como fizeram os portugueses ao desembarcarem em terras tupiniquins, a tranquilidade do vilarejo é ameaçada quando os porcos chegam em solo, fingindo pacifismo enquanto apresentam inovações e produtos do “mundo moderno”, com a intenção de roubar os ovos dos pássaros nativos. Com uma fórmula bastante comum em roteiros, unicamente o protagonista da história percebe o que estão tramando e tenta avisar os outros, o que acaba falhando devido a seus antecedentes “criminais”.
Apesar da trama simplista, o roteiro escrito por Jon Vitti (que carrega em seu currículo episódios de séries de comédias como “The Office” e “Os Simpsons”), acerta em cheio no tom de humor, trazendo desde referências dos clássicos “Karatê Kid” e “O Iluminado” até piadas escatológicas que os pequenos adoram. Já os fãs do game, podem se decepcionar, já que a utilização do estilingue no propósito do jogo é esticada até o final do longa: em um ato bem divertido, os pássaros são arremessados em direção ao castelo dos porcos, cada um fazendo uso de uma habilidade diferente, que (com exceção do Bomba e do Chuck) ainda não haviam sido apresentadas ou sequer mencionadas.
Vale destacar que, mesmo com um elenco de peso no áudio original, a dublagem brasileira não deixa nada a desejar. O humorista Marcelo Adnet empresta sua voz ao protagonista Red e consegue expressar o sentimento da raiva do personagem sem ser muito caricato. Já o pássaro velocista Chuck, ganha toda a habilidade de “falar mais palavras por segundo” de Fábio Porchat, que já havia feito um ótimo trabalho em “Frozen” dublando o boneco de neve Olaph. Além dos dois, também integram a equipe a humorista Dani Calabresa, os youtubers Irmãos Piologo e Pathy dos Reis, além do mestre da dublagem brasileira Guilherme Briggs (o Buzz Lightyear de Toy Story).
Não há dúvidas de que “Angry Birds – O Filme” será um sucesso entre as crianças, que devem anunciar uma sequência em breve e continuará vendendo muitos brinquedos devido ao grande carisma de seus personagens, mas como obra cinematográfica fica abaixo da média de outras produções do gênero. Mesmo assim, vale aos pais passarem esse momento com seus filhos no cinema: só fiquem atentos para fugirem do bombardeio de produtos após a sessão.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 97 min
Nacionalidade: Estados Unidos, Finlândia
Gênero: Animação, Ação, Comédia
Elenco: Jason Sudeikis, Danny McBride, Josh Gad, Sean Penn, Maya Rudolph
Diretor: Clay Kaytis, Fergal Reilly
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