Por Murillo Trevisan


Depois de uma conturbada fase do Universo DC nos cinemas, a Warner Bros. saiu do muro e definiu um novo rumo na história de seus preciosos personagens. A sombria e realista Era Zack Snyder, que começou lá em 2013 com o respeitável “O Homem de Aço” e caminhou praticamente até o meio de “Liga da Justiça” (2017), agora vê seu fim dando lugar à um mundo colorido e fantástico.

Mesmo tendo sido escolhido a dedo e desenvolvido por Snyder, o Aquaman de Jason Momoa (“Game of Thrones”) – assim como a Mulher-Maravilha de Gal Gadot – é o maior símbolo dessa mudança. A começar pelo próprio personagem, que sempre foi visto como um herói patético por conta da animação “Super Amigos” (Hanna-Barbera) e do humorístico “Frango Robô” (Adult Swim), agora assumindo uma versão mais “brucutu”.

Em seu primeiro longa solo, a trama se baseia na fase de “Os Novos 52” da DC Comics, desenvolvida pelo quadrinista brasileiro Ivan Reis e pelo próprio Geoff Johns, atual mandachuva do Universo DC nos cinemas. Arthur Curry (Jason Momoa) é um vigilante dos mares, filho de um humano com uma Atlante ele detém habilidades meta-humanas que o ajudam a proteger seu povo. Quando seu irmão Orm (Patrick Wilson) deseja se tornar o Mestre dos Oceanos, subjugando os demais reinos aquáticos para que possa atacar a superfície, cabe a Arthur a tarefa de impedir a guerra iminente.

Apesar de se tratar de um filme de origem, o roteiro gasta pouco tempo apresentando seu surgimento, utilizando o recurso de curtos, porém eficazes flashbacks que nos contextualizam. Com exceção do prólogo, que narra o inesperado encontro de seu pai Tom Curry (Temuera Morrison) com sua mãe (e rainha atlante) Atlanna (Nicole Kidman), ele opta por seguir uma linha de tempo pós “Liga da Justiça”, priorizando sua evolução como personagem. A história em si, não traz muita originalidade, repaginando contos como “A tragédia de Hamlet” de Shakespeare, ou do próprio Rei Arthur, do qual carrega o nome.

O mérito fica pela excelência na direção de James Wan (“Velozes & Furiosos 7”), que usa e abusa na movimentação de câmeras com poucos cortes, trazendo fluidez para as cenas de ação, dentro e fora d’água. Embora o CGI não esteja tão bem finalizado, ele não perde o controle na grandiosidade em alguns momentos-chave, fazendo a escolha dos melhores planos e enquadramentos. Porém, perde um pouco a mão quando tenta forçar a percepção de “como esse Aquaman” é f*dão, em alguns breves instantes de vergonha alheia, beirando a cafonice.

O próprio Jason Momoa, embora muito carismático, não é uma excelência em atuação. Seu personagem, apesar protagonista e título do longa, precisa sempre do suporte de alguém do brilhante elenco, se limitando a reagir com caretas e frases engraçadas às ações dos coadjuvantes. Em grande parte da projeção essa responsabilidade fica com Mera (Amber Heard), princesa de Atlântida e interesse amoroso de Arthur, que rouba a cena e se mostra muito mais poderosa e eficaz que nosso herói. Destaque para o segundo ato do filme, que assume um tom mais aventuresco e divertido, comprovando a imensa química do casal.

Com exceção do CGI, a produção merece notoriedade pela beleza visual, dando vida e muita cor à cidade submersa, com uma farta diversidade de espécies, costumes e lindos figurinos. O próprio uniforme clássico do nosso herói já simboliza por si só a esperança para os mais desacreditados espectadores.

Mesmo se tratando de um sub-gênero de “Super Heróis”, com exceção de algumas pessoas que ele salva a vida no início, ainda vemos pouco heroísmo por parte do Aquaman, que unicamente trava uma jornada pessoal para descobrir seu lugar entre os dois mundos. Ainda assim, a mudança de tom da Warner resulta no filme mais “quadrinhos” dessa era, abusando de elementos fantásticos e tirando de vez o “pé do chão”.


Pôster


Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 143 min

Gênero: ação, aventura, fantasia

Direção: James Wan

Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Willem Dafoe, Patrick Wilson, Nicole Kidman, Dolph Lundgren, Yahya Abdul-Mateen II


Trailer:

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Avaliação do Filme

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